segunda-feira, 27 de maio de 2013

A minha mãe é uma gaja do caraças

por Ferreira Fernandes / Diário de Notícias

Já se fala da "nova forma de terrorismo", dos lobos solitários, jihadistas com armas da cozinha. Depois dos chechenos das panelas de pressão, em Boston, os dois terroristas de Londres que despedaçaram um soldado na rua, a golpes de cutelo. No terrorismo sempre houve os que dão o corpo ao manifesto e os terroristas armados de boca, gente geralmente resguardada - no caso de Londres, lá apareceu o pregador muito surpreendido com a ação dos seus filhos espirituais... Essa novidade dos lobos solitários é só formal, mas alimentou a costumeira reação defensiva: como os métodos são domésticos, as pessoas comuns sentem-se mais em perigo. Medo, pois. Ora, precisamente, aconteceu em Londres uma novidade a sério: nem todas as potenciais vítimas foram comandadas pelo medo. Ingrid Loyau-Kennett, de 48 anos, ia de autocarro, viu o corpo do soldado e saiu. Pensava ser um acidente, ia dar ajuda, mas logo percebeu: pôs-se a falar com o terrorista das mãos ensanguentadas. Há foto: ela de pé e o terrorista de faca. "Queria afastá-lo das outras pessoas", explicará ela depois. Mais duas mulheres agiram da mesma forma. Quando veio a polícia, Ingrid meteu-se no autocarro e foi-se embora. O filho reconheceu-a pelas fotos e escreveu no Twitter: "My Mum is a motherfucking badass" (traduzo com cautelas: "A minha mãe é uma gaja do caraças"). Ela e as outras duas, a novidade. Tresloucados sem medo já havia. A novidade é a coragem do lado certo.

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