segunda-feira, 27 de maio de 2013

O "X-Acto" está de volta para a "jihad" dos pobres

por Leonídio Paulo Ferreira / Diário de Notícias
 
 
Recorda-se dos X-Acto usados para desviar os aviões contra as Torres Gémeas? Essas lâminas de cortar cartão voltam a estar associadas ao terror islamita: um soldado francês foi esfaqueado em Paris por um homem vestido de jilaba, que fugiu. Não se ouviu gritos de Alá como em Londres, mas as semelhanças com o ataque de cutelo a um militar britânico há dias são assustadoras. A jihad dos pobres está às nossas portas.
Foi o islamólogo Gilles Kepel quem, em abril, alertou, no Le Monde, para a ameaça. Não porque adivinhasse os ataques contra soldados, mas porque via já um padrão nos atentados de Boston, obra de dois irmãos chechenos, que coincidia com o assassino da scooter em França, um ano antes. E com o major muçulmano que matou 13 militares no Texas em 2009 e até com o médico que lançou o jipe contra o aeroporto de Glasgow em 2007.
Lobos solitários é um bom nome para estes terroristas, imigrantes de países muçulmanos ou convertidos em mesquitas controladas por extremistas. Nos Estados Unidos utiliza-se antes a expressão "cães vagabundos", por ser gente que morde onde pode.
Um dos assassinos de Londres, nigeriano nascido cristão, foi filmado de mãos ensanguentadas a explicar que matou porque nas terras do islão se sofre. O filho de iraquianos que atacou em Glasgow justificou-se em tribunal com a sua revolta pela morte e destruição que acompanhou o derrube de Saddam. E os irmãos Tsarnaev terão criado ódio à América por causa das guerras no Iraque e no Afeganistão.
Tem ideólogo esta jihad dos pobres o sírio Al-Souri que viveu em França e na Espanha, combateu no Afeganistão, chegou a ser capturado pelos americanos e, suspeita-se, terá voltado ao país de origem. Diz Kepel que desde 2005 circula na Net um "Apelo à insurreição islâmica mundial", constatação de que as ações centralizadas da Al-Qaeda estavam condenadas ao fracasso. Uma verdade ainda maior após a morte de Ben Laden, em 2011.
Se os ataques contra as Torres Gémeas exigiram a logística de uma rede internacional, já os atentados de 2004 em Madrid e de 2005 em Londres foram obra de células apenas inspiradas em Ben Laden, mas capazes de produzir bombas. O que se seguiu em termos de guerra santa é já mais low cost, seja as panelas de pressão ou as facas.
Pior é que esta jihad dos pobres é tentadora para quem, desintegrado da pátria de acolhimento, procura nas prédicas extremistas a resposta à indignação por tanta guerra no mundo islâmico, seja no Mali ou no Iraque. E quando se calcula, em França, que num ano 200 jovens tenham ido combater para a Síria, o Sahel ou as zonas tribais afegano-paquistanesas, o receio é o que se fará quando alguns regressarem, mais radicalizados e com treino militar, ao país de nascimento.
Só nos resta redobrar a vigilância, defender a liberdade e exigir ao islão que corte de vez com quem o atraiçoa.
Os X-Acto não têm culpa de nada.

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