quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sesta - Astrid Cabral


Mudas as louças do almoço
recolhem-se ao ventre
de sombrios armários
enquanto a paz se coalha
na vasilha das ruas nuas.
Os raros bondes carregam
a paisagem cantando na
pauta de trilhos em brasa.
Sem bafo de brisa as folhas
recortam-se em cartolina.
Cerram-se sonolentas janelas
no lasso mormaço da tarde.
Longas sestas de sonos sem
sons de sapos e serenatas
só os esses das redes sus-
surrando surdos rangidos.
(Que o tempo não escorre
de ausentes vagos relógios!)
Apenas o rio, eternamen-
te serpente revolvendo
areias de inércia e ócio.



Astrid Cabral Felix de Sousa nasceu em Manaus no dia 25 de setembro de 1936. Além de poeta, é contista e professora. É formada em Letras Universidade Federal do Rio de Janeiro, em língua inglesa e em literatura norte-americana pelo Teacher's Training Course do IBEU. Ganhou o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras em 1987 com livro Lição de Alice. Ganhou o Prêmio Nacional de Poesia, também dado pela ABL, em 2004, com o livro Rasos d'água.
[ Blog do Noblat ]

1 comentário:

  1. Olá!
    Gosto das poesias de Astrid Cabral.
    Essa que segue abaixo é uma das minhas preferidas.

    NO COLO DO ANJO

    Empoleirado
    na torre do meu sonho
    um anjo resplandece.
    Cílios cintilantes
    estrelas nos olhos
    ele me acena com plumas
    e me abraça com asas.
    Juntos vagamos
    entre rastros de astros
    a cavalgar nuvens
    por planícies etéreas
    até que me sinto serena.
    É como se mudo dissera
    não temas véus ou névoas
    qualquer neblina passa.
    Mas eis que então fala:
    Não sejas cega, menina.
    O olhar de Deus tudo abarca.
    Só os homens têm pálpebras.

    Boa noite....beijos.

    ResponderEliminar