terça-feira, 24 de março de 2015

HERBERTO HELDER 1930-2015






Herberto Helder, por muitos considerado o maior poeta português vivo, morreu ontem em Cascais. Tinha 84 anos. Nascido no Funchal, Herberto veio adolescente para Lisboa. Publicou os primeiros poemas em 1952, e o primeiro livro, O Amor em Visita, em 1958. Em 1973, com oito livros publicados, entre eles Os Passos em Volta, obra-prima da prosa em língua portuguesa, ainda a crítica dominante não alinhava no unanimismo dos últimos vinte anos. Os Poemas Completos foram publicados em Outubro de 2014 pela Porto Editora. Herberto recusou todos os prémios que lhe atribuíram, incluindo o Prémio Pessoa.

Avesso à exposição pública, Herberto teve na vida várias profissões e ocupações. Foi empregado da Caixa Geral de Depósitos, angariador de publicidade para o Anuário Comercial português, funcionário do Serviço Meteorológico Nacional (na Madeira), delegado de propaganda médica entre 1955-58, guia de marinheiros em Amesterdão, encarregado no serviço de Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, redactor da Emissora Nacional, publicista, director literário da Estampa, colaborador da revista angolana Notícia, revisor tipográfico da Arcádia, redactor de notícias na RDP em 1974, tradutor, etc. Nos anos 1950 fez parte das tertúlias surrealistas do Café Gelo, nos anos 1960 viajou por vários países europeus e no início dos anos 1970 passou uma temporada em Angola.

Como digo num ensaio que publiquei em 2009, e está compilado emAula de Poesia — Não é fácil falar de Herberto, porque Herberto queima pontes, dando a ler uma suma com um pé no romantismo alemão, outro no imagismo russo, fora tradições inesperadas como a dos ameríndios. [...] Afinal, se Herberto fosse um poeta igual a tantos que vicejam nos departamentos de literatura, Novalis refulgiria intacto nos interstícios da voz. [...] Lembrar, muito a propósito, o verso famoso: «Não posso escrever mais alto». A minha geração cresceu com Herberto, repetindo versos irrepetíveis...

Agora vou reler Photomaton & Voz (1979), prosa de primeiríssima água.

 Eduardo Pitta  | Blog Da Literatura

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