por Ferreira Fernandes
Diário de Notícias
Se a alma de Tamerlan Tsarnaev, o das panelas de pressão, já encontrou as
virgens a que tem direito, o corpo continua enregelado na câmara frigorífica de
uma empresa funerária de Boston. Não há cemitério americano que o queira. É uma
situação insólita num país que gosta de expor tudo que cause curiosidade,
incluindo os seus horrores. Um dia, passando por Ashland, Kentucky, cidadezinha
que eu julgava desprovida de interesse, dei com um cartaz à beira da estrada:
"Aqui foi o lar de Charles Manson, o célebre assassino." A casa era triste e
havia uma pilha com jornais amarelecidos que contavam a vida e obra do guru da
seita que matou à facada a atriz Sharon Tate numa noite de 1969, em Los Angeles.
Manson ainda continua na prisão de Corcoran, na Califórnia, mas quando se
libertar desta vida há de ter direito a uma campa pública. Lee Harvey Oswald, o
assassino de John Kennedy, está num cemitério de Fort Worth, Texas, o gangster
Al Capone repousa sob uma pedra negra orgulhosamente de pé, no cemitério de
Hillside, nos arredores da sua querida Chicago, o assaltante de bancos John
Dillinger tem o nome com letras esculpidas em mármore rosa, em Indianápolis... O
radical islâmico Tsarnaev é que não consegue os seus cinco palmos de terra, como
se a América tivesse compreendido que este é um tipo de inimigo interno que não
deve alimentar folclores. Não sou eu, farto de tirar os sapatos nos aeroportos,
que o vou defender.
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