sábado, 16 de fevereiro de 2013

Portugal quando?

 

 

 
 
FERNANDA CÂNCIO   por Fernanda Câncio
 

Depois da novela da candidatura gorada de Costa à liderança do PS e dos apelos à unidade e conciliação que culminaram no "documento de Coimbra" - chegou a intitular-se "Portugal primeiro", o nome dado por Passos à sua moção de 2010 (!) -, esperar-se-ia que a direção triunfante abandonasse a histeria e agressividade entrincheirada com que reagiu às críticas internas, concentrando-se no apresentar de uma alternativa credível de governo.
Mas, num artigo de opinião publicado ontem no i, o porta-voz socialista, João Ribeiro, evidencia que para si o fundamental é apresentar o seu líder não como quem pode salvar o País, mas como salvador do partido (o texto dá mesmo pelo nome de "Seguro salvou PS"). Para o efeito, o articulista decide apontar vários países da Europa em que partidos similares ao PS não ultrapassam os 30%. Ribeiro entusiasma-se tanto, aliás, com os valores das sondagens portuguesas que vê o PS a liderar "com valores idênticos ou superiores ao total dos dois partidos da maioria". Ora as últimas dão ao PS 34,1% (Eurosondagem) e 31,6% (Marktest), enquanto PSD/PP apresentam, respetivamente, 37,1% e 33,1%. Isto com um Governo há ano e meio em funções que, além de ter contraditado na prática tudo o prometido em campanha, responde pela maior carga fiscal de sempre, pelo anúncio de um corte brutal no Estado social, por previsões erradas em todos os indicadores, uma desaceleração brutal da economia e um desemprego galopante. E com um PM que repete que é assim porque sim e que a gente se habitue, porque não tenciona mudar de rumo.
Mas Ribeiro, em vez de se deter na minudência de perante tal desastre o PS não conseguir convencer, decide explicar aos partidos congéneres como "descolar nas sondagens". É, pois, não persistindo "exclusivamente na defesa dos sectores mais tradicionais do Estado social de sucesso que construíram", mas congregando "uma nova agenda de modernidade que [...] abraça uma realidade de serviço público multidimensional mais flexível aos interesses criticamente apreendidos por uma nova geração de cidadãos autónomos". Seja lá o que isto quer dizer, fica-se com a impressão de que o PS de Seguro, apesar de, contra opinião de críticos internos, ter recusado a participação do partido na comissão parlamentar para o efeito, descobriu agora ser prioritário reformar o Estado social.
Mas o porta-voz do PS tem mais surpresas para o povo. Diz ele que o grande problema são "as elites e as corporações que não se querem submeter aos políticos democraticamente legitimados". Será que o PS de Seguro quer recuperar a guerra de Sócrates aos interesses corporativos? Ou Ribeiro fala ainda e sempre para dentro do partido, vituperando os que vê como ameaça à supremacia do seu grupo, insinuando que o fazem por elitismo e interesses obscuros? A ser assim, duas conclusões: nem esta direção se sente segura, nem é estranho que o País não o esteja de um partido com tal voz.
 
 
 
[Diário de Notícias]

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