
" A vida política, a vida pública numa democracia tem que ter níveis de transparência a 100 por cento. E por isso, quando há dúvidas sobre o comportamento de membros do Governo, ou de outros políticos, elas devem ser cabalmente esclarecidas. Não pode ficar nenhuma dúvida, doa a quem doer e seja quem for."
Seguro a respeito do caso Relvas-Público, 22 de Maio
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Relvas foi à Comissão Parlamentar para a Ética, Cidadania e Comunicação prestar declarações a respeito das acusações do Público apenas porque a tal foi obrigado pelo agendamento potestativo do PS. Por sua vontade, não teria posto lá os pés. Chegada a hora da verdade, recusou-se sequer a comentar as passagens do relatório da ERC que registaram mentiras suas e que apontaram para eventuais consequências nos planos ético e institucional, repetindo com insolência e acinte em todas as respostas que tinha sido ilibado pelos técnicos que elaboraram o relatório. Teve até o descaramento para reclamar o direito à indignação perante ataques à sua honra (os quais não identificou) e de alegar que estava a ter um comportamento que beneficiava todos os agentes políticos.
O caso Relvas-Público não tem paralelo com nada que tenha chegado ao espaço público no Portugal democrático. A sua gravidade radica na absoluta credibilidade e veracidade da acusação, na exposição da tipologia da pressão (chantagem relativa à privacidade de uma jornalista e de um político e boicote informativo por todo o Executivo) e na cumplicidade moral e política do Primeiro-Ministro – portanto, do Governo. A partir do episódio é legítimo admitir a possibilidade de não ter sido esta a primeira vez que Relvas usou tal metodologia, podendo apenas ter sido esta a primeira vez que alguém lhe resolveu mostrar que tinha ossos no lugar onde ele contava com a presença de gelatina. É que Relvas já mostrou noutras ocasiões uma violência verbal que é manifestação de um sentimento de impunidade em roda livre. Quem se permite em público ofender toda a família de um adversário político, o que não fará julgando-se protegido pelo secretismo e pelo medo das suas vítimas?
Este caso, pois, ultrapassa a mera questão da sua permanência em funções governativas e partidárias. Este caso remete para uma cultura partidária que tem anos de exercício e a qual reduziu a política ao jogo e o jogo à batota. Ao lado de Relvas está Passos, e ao lado de Passos está o próprio Presidente da República e os anteriores líderes do PSD que promoveram e exploraram assassinatos de carácter, golpadas judiciais-jornalísticas e manipulações populistas. Foi este caldo venenoso que escolheu a política da terra queimada única e exclusivamente para conquistar o poder. E este é o cenário onde a personagem Seguro se ilumina e destaca.
Seguro, em Novembro de 2010, saiu-se com esta valentia lançada na cara dos seus colegas socialistas: “Serei implacável com a corrupção”. Em Setembro de 2011, no XVIII Congresso, disse que o combate à corrupção seria uma das prioridades do seu mandato e avisou que todos os membros do Secretariado Nacional teriam de assinar um compromisso de honra em como respeitariam um código de ética dirigido a todos os dirigentes e candidatos do PS. Não sabemos o que será feito de tanta ética junta por assinar e respeitar, mas sabemos que Seguro – um dos mais opacos líderes políticos de sempre – é o campeão da exigência de transparência. E foi precisamente isso que lhe passou pela mona quando teve de se pronunciar sobre as avarias do seu amigo Relvas.
Ora, estando o processo concluído e o PS satisfeito com os resultados, posto que nada mais tem para perguntar ou dizer a Relvas nem se mostra incomodado com o espectáculo chulo dado no Parlamento em frente dos deputados, está na altura de avisar o nosso exemplar Seguro que o seu objectivo foi alcançado. As dúvidas que ainda tínhamos a respeito da tua coerência, ideal republicano e sentido de Estado foram cabalmente desfeitas: estás completamente anestesiado e vais anestesiando o partido, doa a quem doer.
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