
António Borges, em entrevista ao Público de domingo, dia 15:
Pergunta: Tem defendido o espírito do memorando da troika. Está confiante no resultado?
Resposta: “Portugal estava numa situação de completa emergência. A maioria das pessoas não se deu conta de quão perto estivemos da bancarrota. Era uma questão de dias e não tínhamos dinheiro para pagar aos funcionários públicos e aos pensionistas. O país precisa agora de voltar aos carris, de pôr a economia em ordem. As coisas estão a correr melhor do que pensávamos em muitas perspectivas. Estou, por isso, confiante que os resultados vão chegar mais cedo do que se esperava.”
Ora bem, esta falácia de que a economia ia muito mal devido a políticas erradas (pressupõe-se e alguns afirmam-no, dos últimos seis anos) e que apaga do mapa a crise internacional tem sido repetida ultimamente ad nauseam por todos os PSDs que passam pela televisão e pela rádio. E são muitos e despudorados. Estávamos à beira da bancarrota, para onde fomos levados pelo Governo anterior, martela-se, e fomos salvos pela milagrosa Troika e seus fiéis representantes na Terra, os atuais governantes. “Estamos muito melhor do que há um ano”, dizem os Arnauts, os Matos Correia e os Abreus Amorins de serviço. Para o ilustrarem, falam exclusivamente dos juros que estão mais baixos e da mais que subjetiva convicção de que lá fora temos imensa credibilidade. Baixaram de facto um bocadinho os juros nos prazos mais curtos, de 3 a 12 meses (baixariam igualmente com outro governo, os mercados são algo tontos, tendo em conta a situação das contas públicas), mas nos mais longos nem há sequer hipótese de ir ao mercado. Evidentemente que os juros cobrados pela Troika também são mais baixos do que os que nos pediam em Maio de 2011, mas isso é a condição indispensável para se recorrer a empréstimos de emergência internacionais: bastava que nos emprestassem dinheiro a juros de 6% para já serem mais baixos. Não é essa a taxa, mas anda lá perto. É altamente compensadora.
Estivemos perto da bancarrota, diz o homem com orgulho salvífico. Mas agora, passado um ano, quantas famílias, serviços e empresas estão na bancarrota? Quantas pessoas fugiram?
E a que se deveu a emergência que tanto alardeiam? À inexistência de políticas de redução da dívida e do défice? Não. Elas existiam e estavam a ser acompanhadas e aprovadas pela UE. O PCP e o BE que o digam tendo em conta o que diziam então – tudo o que o Governo propusesse como contenção de gastos eram ataques às classes trabalhadoras, tudo era cedência aos privados. Tudo era liberalismo com capa de esquerda. O próprio PSD e o CDS acusavam o Governo de Sócrates de sobrecarregar os portugueses com impostos e austeridade desmesurados. Somem-lhe o Cavaco. A Assembleia e as transferências para a Madeira. Lembram-se? Teixeira dos Santos viu-se obrigado a fazer uma declaração ao país para expor a irresponsabilidade da oposição. As carreiras docentes! A lata não tem, pois, limites.
O que esta gente quer verdadeiramente dizer é que estão, eles, muito melhor, não o país. O estado do país está à vista e vamos ter de recomeçar tudo de novo, algum dia tem de ser, com alguém que reponha a dignidade interrompida. Dispensamos o Tozé.
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