Depois de várias reviravoltas políticas, que passaram pela criação do CDS após o 25 de Abril, pelo abandono do partido mais tarde, o que lhe grangeou o estatuto de persona non grata no Largo do Caldas e levou à cena caricata da retirada da sua fotografia das paredes, por uma candidatura à Presidência da República, uma passagem pela AG da ONU e pela participação em governos de diferentes cores, nomeadamente no primeiro de José Sócrates, do qual saiu, não em conflito (embora quem pudesse ter razões de queixa (políticas) fosse Sócrates), mas devido a problemas graves de saúde, Freitas do Amaral decidiu atacar o antigo primeiro-ministro com a mais descarada das ligeirezas e o mais descarado dos populismos e, direi eu, oportunismos. Este ataque já data de há uns meses, bem antes das últimas eleições. O tempo suficiente para que a cambada que agora nos governa o considere digno do lugar de presidente do conselho de administração da Galp. Pois é.
Freitas, como a direita rasca que nos calhou em sorte, tem proferido afirmações verdadeiramente incompreensíveis para quem deveria ter mais, muito mais do que dois dedos de testa. Freitas faz completa tábua rasa das circunstâncias em que Sócrates foi forçado a governar desde 2009, após uma campanha sem paralelo de ataques pessoais, da crise internacional do subprime, cujas consequências já então se sentiam fortemente aqui na Europa, da gravidade de uma eventual recusa de formar governo nessa altura crucial e da abertura de uma crise política, das directrizes da União Europeia no sentido de se incentivar a economia, da inversão brusca dessas mesmas directrizes mal a Alemanha resolveu o seu problema e mal começou a especulação em torno do euro, do comportamento velhaco das oposições.
Crespo, que não perde uma que alimente o ódio contra o ex-primeiro-ministro, convidou-o para o Jornal das 9. Claro que o pretexto foi o lançamento de um livro (estamos no Natal, afinal!).
Imagino que Portas não ache muita piada à nomeação de Freitas para a Galp, sendo por isso conveniente carregar os tons das acusações ao anterior governo. No balcão do Crespo, Freitas aproveitou o vídeo da palestra de Sócrates em Poitiers para desferir mais um golpe completamente oportunista, baseado numa deturpação propositada das afirmações de Sócrates, e ridículo, pois qualquer pessoa percebeu que o problema de que falava o conferencista era o do pagamento das dívidas de alguns países a um ritmo de mata-cavalos. Era o problema da necessidade de desenvolvimento dos países. Era o da diabolização das meras dívidas!
Freitas não é burro ao ponto de não o perceber. O problema dele, como resulta claro, é o que o move. E aí, não se vislumbra nunca nada de muito edificante. Um distinto catedrático que perdeu mais uma boa oportunidade de se distinguir da podridão.
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