sábado, 6 de junho de 2020

Teresa Canta Cartola Ao Vivo


Cartola

 The history of Cartola is intertwined with the history of urban carioca samba, from the 1920s through the end of the century. He was the partner of legendary Noel Rosa, he had his compositions recorded…
Read Full Biography


Teresa Cristina

Considered one of the leaders of Carioca samba in the late '90s, Teresa Cristina has performed with the Velha Guarda da Portela, Elton Medeiros, Moacyr Luz, and Pedro Amorim. As a composer, she has written…
Read Full Biography





Apresentada ao mercado fonográfico brasileiro há 14 anos com o songbook duplo A música de Paulinho da Viola (Deckdisc, 2002), Teresa Cristina volta a dedicar disco a outro bamba do samba. A cantora carioca chegou a fazer show com a obra de Candeia (1935 – 1978), mas o show que sai em disco – disponível somente em edição digital a partir de hoje, 15 de janeiro de 2016 – é o registro ao vivo do show em que Teresa canta Cartola (1908 – 1980), o poeta de Mangueira, fino estilista do samba com composições de alta costura melódica e lírica.

Teresa canta bem Cartola porque há uma melancolia entranhada tanto na voz da cantora quanto na obra do compositor. Mesmo quando vislumbrava beleza, como nos versos de Ao amanhecer (Cartola, 1968), rara – e bela – música mais obscura em repertório pautado por sucessos do compositor, o poeta deixava transparecer uma tristeza na melodia e na alma. Talvez por isso Teresa cante Cartola com tanta precisão.

Infelizmente preservadas na mixagem do disco ao vivo, as palmas do público são o único elemento que interfere na atmosfera perfeita de uma gravação valorizada pelo toque virtuoso do violão de Carlinhos Sete Cordas. Evocando tanto o violão natural tocado por Cartola quanto o violão magistral de Raphael Rabello (1962 – 1995), as sete cordas de Carlinhos armam a cama para Teresa deitar e rolar em melodias pouco cantadas como Vai amigo (Cartola, 1968) e também nos clássicos como O mundo é um moinho (Cartola, 1976). Musicalmente, o disco é perfeito. Os problemas estão na edição da gravação ao vivo feita em 16 de novembro de 2015 em apresentações do show no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), cidade natal do compositor e da cantora. Além das palmas (incômodas em disco ao vivo que não pede o calor da plateia, com evidente exceção do coro feito espontaneamente pelo público em As rosas não falam, pérola de 1976), as falas da cantora foram (mal) editadas. Deveriam ter sido integralmente suprimidas ou, então, inteiramente preservadas. Do jeito que o disco chegou ao iTunes e às plataformas de streaming, o ouvinte menos informado sobre a obra de Cartola fica sem entender que três músicas de criação alheia – Pranto de poeta (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, 1957), Preciso me encontrar (Candeia, 1976) e Senhora tentação (Meu drama) (Silas de Oliveira e Joaquim Ilarindo, 1967) – estão no roteiro porque são músicas que ganharam a voz rústica e profunda de Cartola. Descontadas tais questões, a música de Cartola encontra em Teresa Cristina uma intérprete ideal, afinada com a fina melancolia que pauta obras-primas como Peito vazio (Cartola e Elton Medeiros, 1976). Em tom tradicional, a cantora dá voz reverente a joias raras como Amor proibido (Toda culpa) (Cartola, 1965), Corra e olhe o céu (Cartola, 1974), Sim (Cartola e Osvaldo Martins, 1952) e Tive sim (Cartola, 1968), se juntando a um primeiro time de intérpretes do poeta que inclui Ney Matogrosso e, claro, Beth Carvalho, voz mais associada à obra de Cartola, ora (tão bem) cantada por Teresa Cristina em belo disco ao vivo.

Sem comentários:

Enviar um comentário