segunda-feira, 25 de setembro de 2017

quando a ternura for a única regra da manhã























um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, 
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela. 
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor. 
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for 
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada 
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da 
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso 
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi 
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar 
a perfeição da felicidade. 

José Luís Peixoto, in 'A Criança em Ruínas' 



Sem comentários:

Enviar um comentário