segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Opinando sobre o PS

 POR PENÉLOPE | Blog aspirinA B

António Costa não deve demorar muito a colocar o seu lugar à disposição no partido, candidatando-se ou não a uma reeleição. Não é pela cara de ressentimento e pelo ar ameaçador do António Galamba. Seguro nunca teria conseguido melhores resultados, como parecem agora pretender os seus ressuscitados apoiantes. É evidente que não teria. Em conteúdo intelectual, Seguro não se distinguia de Passos Coelho. Apenas diferia, em seu prejuízo, no facto de não ter por detrás as máquinas aparelhísticas de Relvas, Marco António e Nuno Melo voltadas para o combate externo, nem o respetivo descaramento e pulhice profissional, nem a arrogância e ambição de ideólogos como António Borges, Moedas, Maçães ou Gaspar. O apelo aos corações e ao amor das e dos militantes também era penoso de ver em Seguro (mas é certo que Passos tem o crucifixo). A questão é que, perante o falhanço total das políticas do Governo (falo das metas numéricas, todas incumpridas, do perigo de bancarrota iminente, que não desapareceu, muito pelo contrário (apesar do que Portas diz), dos efeitos sociais, da degradação dos serviços públicos, do retrocesso cultural, educativo e habilitacional, por exemplo), e perante o cúmulo nunca visto de mentiras, deturpações e truques contabilísticos da coligação, as eleições não foram ganhas pelo PS. Costa não foi capaz de contrariar a propaganda nem a demagogia de Portas e Passos (complementada pela dos inúmeros comentadores e jornalistas de direita), desde logo no que respeita às cicunstâncias em que a Troica foi chamada e também à alegada retoma. Será capaz a partir de agora? E como, se a coligação, em equilíbrio instável, e já tendo percebido os tabus de Costa, vai reforçar ainda mais a estratégia de ataque e do outro lado existe um BE ufano e desafiante?
A seu favor, Costa tinha a experiência governativa e a liderança do município de Lisboa, ambas positivas, para além da aura de seriedade e competência de que gozava. Esses fatores devem ter tido algum peso, apesar de tudo, para o partido não ter ficado abaixo dos 30%, já que a campanha do PS para estas eleições foi mal preparada e Costa se mostrou, sobretudo na rua, mas também nalguns debates, sem garra nem combatividade.  As suas opções foram muito pela defensiva. Muitas delas totalmente erradas, como a do Seguro em relação a Sócrates e ao governo anterior. A um líder exige-se ousadia, mesmo contrariando o chamado senso comum.
Para além dos seguristas, que já começaram a ameaçar vingança, há bem quem entenda, ainda que com pena, que a estratégia de Costa não é ganhadora em geral (repararam como andava sozinho?): não o foi para estas eleições, quando tinha as condições ideais para o ser, já antes o não fora com a nomeação de Ferro Rodrigues para a liderança da bancada parlamentar, não o será para a legislatura que agora começa, com o partido ainda na oposição. Convém lembrar que as novas condições resultantes da perda da maioria absoluta pela coligação exigem extrema habilidade no quotidiano parlamentar e político e um plano de recuperação da maioria a médio prazo para o PS muito bem gizado. Quem estará à altura? Costa? Há milagres, mas, apesar de lhe reconhecer inúmeras qualidades e de ser capaz de lhe perdoar a falta de jeito para falar e discursar, tenho fundadas dúvidas. E não gostaria que o PS desaparecesse, caso Costa falhasse de novo. Não seria altura de o próprio António Costa incentivar Fernando Medina a avançar? Seria um desafio que lhe ficaria bem lançar, já que o próprio Medina provavelmente não desejará pôr em causa a confiança que Costa nele depositou ao escolhê-lo para número dois do município. Estarei curiosa para ver os objetivos e os valores que irão prevalecer.


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