terça-feira, 22 de setembro de 2015

O dia seguinte | Pacheco Pereira




Sejam quais forem os resultados, a política portuguesa muda muito no dia seguinte às eleições. 

Se o PAF ganhar, haverá pela primeira vez em Portugal um forte reforço da direita política e ideológica, cimentada por uma poderosa coligação de interesses económicos. Na verdade, esse reforço já existe, mas devido à forma como correu a campanha de 2011, a sua legitimidade e liberdade de acção estavam coagidas. Pode não conseguir cumprir o seu programa não escrito e a sua agenda escondida, mas uma onda de arrogância política abrirá caminho para muitos ajustes de contas. Os alvos serão os sociais-democratas do PSD, os democratas-cristãos do CDS, os socialistas de esquerda, os sindicatos, os reformados e pensionistas, os trabalhadores da função pública, os municípios que não sejam do PSD, os trabalhadores com direitos, os desempregados de longa duração, etc. 

O centro político será varrido do mapa, e a sua principal consequência é o toque de finados pelo PSD como partido do centro, centro-esquerda e centro-direita. O Tribunal Constitucional estará também no ápex da conflitualidade política. Isto, no pressuposto de que a coligação encontra forma de governar em minoria, o que, caso ganhe e haja um tumulto no PS, não é de todo impossível com um PS mais "amigo".

É por isso que esta eleição é muito importante para Passos, Portas e para o núcleo político e económico que se juntou ao actual Governo, desde think tanks conservadores (que já existiam, mas não tinham a agressividade, nem a capacidade de colocar pessoas e ideias nos sítios certos), a sectores empresariais que beneficiaram das políticas governamentais não só em apoios directos, como em legislação orientada para os seus interesses como aconteceu com toda a legislação laboral. Como se vê pela campanha do PAF, que transpira riqueza por todo o lado, e por alguns investimentos estratégicos feitos com antecedência (como o Observador), não lhe faltam nem vão faltar meios.

O dia seguinte (2)
Isto acontece mesmo que a coligação ganhe em minoria e se abra um período de instabilidade política. Mais: se a coligação ganhar e ficar em minoria, o seu derrube com novas eleições ser-lhe-á muito favorável. Um governo minoritário do PAF, será sempre mais difícil de derrubar sem custos eleitorais para quem o faça, do que um governo do PS. O derrube de um governo do PS pode ter o efeito contrário, favorecer o discurso da "estabilidade" do PAF. É também por isso que a maioria absoluta é mais importante para o PS do que para o PSD e CDS. O PS tem um tiro, o PAF tem dois. 

O dia seguinte (3)
Se Costa perder será varrido da liderança do PS num ápice. O ticket eleitoral dos seus opositores será dar ao Governo o PS como aliado, ou melhor, "dar ao País estabilidade", propor um bloco central. Não é impossível que haja uma reacção dos militantes do PS, "à Corbyn", ou seja uma viragem à esquerda, mas na actualidade são as hostes de Seguro e de Maria de Belém que estão à espera. 

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