quarta-feira, 1 de julho de 2015

Perfeito juízo

Só um maluco é que acredita na tanga de Sócrates acerca da sua prisão ter como finalidade prejudicar o PS nas legislativas. Pode lá ser! Então, duas das mais prestigiadas figuras da Justiça portuguesa, os excelsos Rosário Teixeira e Carlos Alexandre, iriam arriscar as suas brilhantes carreiras metendo-se numa aventura dessas? É um cenário inconcebível. Ninguém no seu perfeito juízo perde um segundo com essa fantasia, para mais vinda de tão desesperada e vil personagem.
Se acreditássemos nisso, de seguida estaríamos a acreditar que um procurador e um juiz, algures entre Lisboa e o Porto, decidiam espiar um amigo de um primeiro-ministro, na certeza de que os dois mantinham comunicações privadas. Depois, acreditaríamos que esse procurador e esse juiz decidiam não solicitar a devida autorização legal para espiarem o primeiro-ministro. E ainda acreditaríamos que esse procurador e esse juiz resolviam tentar constituir como arguido o primeiro-ministro que tinham espiado a meses de umas eleições legislativas e autárquicas. Por fim, teríamos de conseguir imaginar que esse procurador e esse juiz tinham tido a ousadia de levar avante esse plano apesar de não constar nas captações nada que fosse passível de configurar actos ilícitos. Quer dizer, ninguém no seu perfeito juízo acha que algo similar alguma vez aconteceu ou virá a acontecer em Portugal.
Ou então, a acreditarmos nisso de Sócrates estar preso só para prejudicar o PS, então também temos de acreditar que um Presidente da República, a semanas de umas eleições legislativas, resolva usar um jornal para lançar a suspeição de que o Governo de então usa os serviços secretos, ou técnicas desses serviços secretos, para espiar a Presidência. Obviamente, esta hipótese é tão rocambolesca que nem para má literatura serve. Ninguém no seu perfeito juízo está disposto a conferir a mínima verosimilhança a parvoeiras deste calibre.
Aliás, as pessoas que conservam o seu perfeito juízo o que mais desejam é que o PS se mantenha alheado do que se passa na Justiça. Para tratar dos assuntos da Justiça já existe muita gente, e gente séria, credível, honesta. Temos o Correio da Manhã, que faz um excelente trabalho em prol da transparência nos processos e que dá voz aos coitados dos magistrados. Temos a ministra da Justiça, um paradigma da salubridade política e do sentido de Estado. Temos o próprio Presidente da República, o sr. Cavaco, o qual se nada diz (ou quase) a respeito é porque não vê qualquer motivo para preocupação.
Que seria deste país sem todos aqueles, tantos, que estão no seu perfeito juízo.

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