sábado, 11 de outubro de 2014

Leituras




Sondagens, encontro entre Cavaco e Costa, Nuno Crato e ainda o BES

Hoje

Esta semana, Pedro Adão e Silva e Pedro Marques Lopes falam das primeiras sondagens e do primeiro debate quinzenal pós-primárias no PS, do encontro entre Cavaco e Costa por «convergência de vontades», da insustentabilidade de Nuno Crato, dos eventuais prejuízos para os contribuintes com a resolução do BES, e do OE2015. Em exclusivo para TSF.pt, a conferência anual do FMI e o regresso de Vítor Gaspar.

.....

Abjecção, José Pacheco Pereira
E assim, percebem? Fernanda Câncio

.....


O Lawrence, infelizmente, da Arábia

por FERREIRA FERNANDESHoje  Diário de Notícias

O meu não herói preferido? O Lawrence da Arábia. Morreu em cima da sua motocicleta Brough Superior, em 1935, quando devia ter caído do alto de um eucalipto, mas também podia ser de uma ponte, logo que fosse aí por volta em 1910. A menos que assinasse um compromisso de se especializar em olaria medieval, a sua primeira vocação, e nunca pusesse os pés nas areias do deserto. Perdíamos um bom filme? Perdíamos. Belas imagens, melhor música e a única ocasião em que desejei ser louro e ter olhos azuis à Peter O"Toole. Mas, pelo menos, era garantido não termos a mais feia imagem desta semana. No deserto (lá está, eu bem tentei afastar o Lawrence dos camelos...), dezenas de tanques turcos obscenamente quietinhos a olhar para uma cidade curda, Kobani, a ser tomada por um bando de faquistas tresloucados.
Ontem, o enviado especial da ONU à Síria preveniu: "Vai ser um massacre." Em Kobani há 700 soldados curdos e 12 mil civis - e eles estão a pedi-la, a faca. Nos 12 mil civis há talvez uma mulher, uma só que seja. Mas mulher à curda, cara à mostra. E isso é como mergulhar numa praia da Austrália depois de ter deitado à água um bidão de sangue fresco. Os tubarões, perdão, os jihadistas, em lhes cheirando a cara de mulher à mostra, passam-se. Esta semana um documentário mostrava refugiados yazidis do Iraque fugindo. Definição de yazidi, no que interessa para o caso: não são muçulmanos e mesmo quando mulheres têm a cara descoberta. A pedi-las, portanto, como já disse. A fuga era um rol de poucos sobreviventes contando o destino dos seus: eles, mortos; elas, por vezes meninas de 12 anos, casadas por três dias com um jihadista, passadas a outro, que só dorme com ela depois de devidamente casada. Não são violações, são violações sacramentadas. Ele há normas, procedimentos e dedo espetado para o Poderoso que só agravam a maluquice...
Temos, então, o caso das curdas, ou da curda, à espera do massacre em Kobani. Vai casar-se muitas vezes. Com os tanques turcos paradinhos a ver. Ou talvez não haja já mulher nenhuma. Serão assim só 12 mil pescoços civis, 700 pescoços militares e centenas de tanques turcos paradinhos. Ele há contas malucas nos noticiários. E o que mais me impressiona é não nos podermos deter nos 12 700 pescoços - e muito menos, claro, num só deles, isso, sim, uma tragédia - porque a questão é geopolítica.
Os turcos dos tanques, vão os próprios dizer, têm justificações geopolíticas para ficarem paradinhos a olhar. Arábia Saudita, Qatar e Kwait andaram a acirrar os jihadistas do Estado Islâmico para afiarem as facas. Longe deles, porque os ricos do petróleo gostam de manter Meca, Medina e o Mundial de Futebol abrigados das maluquices que eles patrocinam algures. Uma coisa é pagar aos malucos os Toyotas novíssimos para eles atravessarem as areias do Iraque, da Síria e do Curdistões. E ir buscar mais malucos a Birmingham ou Marselha, armá-los com boas automáticas e ainda melhores naifas que quanto mais rombas mais assustam. Outra coisa é deixá-los entrar, que não deixam, no aeroporto de Doha e nos centros comerciais de Riade. Ora, essa bolha protetora não tem a Turquia, tão perto de Alá e ainda mais perto dos malucos de Alá.
E é aqui que voltamos ao louro de olhos azuis Thomas Edward Lawrence, o Lawrence da Árabia que infelizmente não se ficou por Lawrence da Olaria. Foi mesmo para o deserto. E, então, aquilo que era uma região que caminhava como caminha sempre o mundo, com contradições, com uns civilizados (e, neste caso, muito civilizados, Mesquita Azul, Basílica de Santa Sofia, Istambul, Bagdad, Beirute, Damasco, Cairo...) e com outros menos civilizados (e, neste caso, muito incivilizados, pastores de camelos...), isso, avançando e retrogredindo, que é como o mundo avança, foi estilhaçado pelo tal Lawrence, armado em profeta dos outros. A favor dos pastores de camelos. A britânica BP, ao princípio ganhou. As petrolíferas americanas sucederam-lhe. E os pastores de camelo, de protegidos, primeiro, e aliados, depois, estão em vias de se tornarem os senhores da região. E o grande problema é que não cresceram como a História ensina, crescendo também por dentro. Já não pastores de camelos, porque imensamente ricos, mas ficaram com a mentalidade de camelos.
Porque é que, aos 20 anos, o Lawrence não teve a sabedoria de se atirar do pilar de uma ponte?


Sem comentários:

Enviar um comentário