quinta-feira, 18 de setembro de 2014

“Great Britain or Little England”? ( 2 )














Escócia ganhou um grande discurso


por Ferreira FernandesHoje  

Quem gosta de saber do mundo deveria reservar 13 minutos do seu tempo para ouvir o discurso de Gordon Brown, ontem, em Glasgow. Se calhar, o voto de hoje dos escoceses, a ser "sim" à independência, varrerá esse discurso, tal como Churchill foi apeado em 1945 depois de ter ganho a guerra; se o voto for "não", o discurso será lembrado como o momento-chave, aquele que decidiu a continuação do Reino Unido. Em qualquer dos casos, o discurso merece atenção futura, por tanto tempo quanto perdurar o interesse dos homens pelo exercício do bem falar dos políticos. Querendo estes convencer-nos, e na democracia é pela palavra que o fazem, então que o façam com estilo e paixão. Aconteceu ontem com o trabalhista Brown, na esteira do que algumas vezes aconteceu com o conservador Churchill. Como a política é utilitária, os grandes discursos merecem momentos decisivos. E os momentos decisivos e graves anseiam por políticos capazes de se mostrarem líderes. Pois bem, o momento crucial por que passa a Grã--Bretanha teve ontem quem o merecesse. Foi o escocês e ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown que falou como deve ser, no tom e na mensagem. Lembrou: "O que [os escoceses] conseguimos foi muito e não foi fora do Reino Unido, mas dentro do Reino Unido." E: "O que nós escoceses fizemos foi sem sacrificar na união a nossa identidade, cultura e tradição de escoceses." Vão partir? Seja, ficarão todos mais fracos, como os que escolhem mal.


Ao que chegámos, Mel Gibson como líder

por FERREIRA FERNANDESOntem 

Stephen Colbert não é John Stewart, mas é primo. O seu programa satírico na televisão americana The Colbert Report, tal como The Daily Show, também trata os espectadores com inteligência agressiva.
Por estes dias, Colbert apresentou-se de kilt e gaita-de-foles e declarou-se a favor da independência da Escócia. Explicou-se: "Quando vejo pessoas iradas a exigir uma coisa e eu nem percebo bem o que querem, estou com elas!" Daí o kilt, a gaita-de-foles e a imitação de Mel Gibson em 'Braveheart - O Desafio do Guerreiro' com que o humorista apresentou o seu programa.
Fosse outro o folclore e Stephen Colbert poria cachecol palestiniano e um colete de bombas. Um palhaço. Voluntário, desses que falam para os palhaços involuntários que gostam da causa da moda (e o mundo por estes tempos fornece-as em alta rotação). "Viva a Escócia independente!"é a causa que está a dar.
Colbert convidou um jornalista do britânico 'Guardian' para fazer contraponto às suas palhaçadas. O jornalista contou a sucessão de asneiras que os políticos britânicos cometeram - com o primeiro-ministro David Cameron à cabeça - antes de darem conta das coisas a precipitarem-se... Parecia estarmos a ser conduzidos para este raciocínio: se eles cometeram asneiras, "bora, vamos dar uma de Mel Gibson... Vamos, o que interessa é o movimento, ir. Mas se amanhã for "sim", como será? Respondeu o jornalista: "Cataclísmico." É, a palavra existe e pode não ser só palavra.


Voltando ao calafrio nas costas


por FERREIRA FERNANDES16 setembro 2014 

Parece bater sempre na mesma tecla, e é. Tenho o pescoço sensível e, sim, volto ao Estado Islâmico. Temos, então, o referendo na Escócia, na próxima quinta. O primeiro-ministro britânico David Cameron disse que a independência escocesa não seria um convite para tomar chá mas um "divórcio doloroso." E insistiu que o "sim" à independência seria um ato irreversível, seria "para todo o sempre." Reparo que Cameron não lembrou um dos factos deste referendo: a decisão sobre a unidade será tomada por uma só parte, os residentes na Escócia. Como eu já disse aqui, um português que não saiba quem foi Livingstone, nem queira saber, e viva em Edimburgo há três anos porque a empresa belga o lá colocou, pode votar. Já um inglês e um escocês que vivam em Londres não podem votar, apesar da decisão lhes dar a dor de perderem, a um a Escócia, a outro a Inglaterra, partes da sua vida, memória e cultura. Temos, pois, para voltarmos à imagem de Cameron, um divórcio litigioso em que a parte que decidiu partir é que decide unilateralmente, sem recorrer à arbitragem de um terceiro, um juiz, como prudentemente os casamentos de pessoas se deram para acabar o melhor possível. Quer dizer, a haver saída da Escócia, não haverá melhor possível. Será rutura de consequências incontroláveis e imprevisíveis, como foi o fim da URSS. Logo, o melhor exército europeu, o britânico, acaba. Logo, o meu pescoço está mais frágil. Como eu disse, volto à minha tecla.

{Diário de Notícias}







Sem comentários:

Enviar um comentário