terça-feira, 22 de julho de 2014

Abençoado por Deus mas muito complexado




por Ferreira Fernandes | Diário de Notícias





O cozinheiro inglês Jamie Oliver foi ao Brasil e num programa televisivo deram-lhe um brigadeiro, doce brasileiro. Bom de boca mas língua assanhada, Oliver decretou: "Porcaria." E disse bem, os brigadeiros são doces enjoativos e preguiçosos. Basicamente, uma lata de leite condensado levada ao micro-ondas e é para enfardar. Num país com boa fruta, açúcar e chocolate, tradição de boas mãos portuguesas, africanas, italianas e libanesas, o Brasil tem boa doçaria. Oferecer brigadeiros é mostrar a seleção do Fred e dizer que é Didi. Mas o insulto de Oliver foi mal digerido, ninguém gosta que se cuspa na nossa sobremesa. Até que, ontem, o jornal Folha de São Paulo descobriu os culpados do insucesso do brigadeiro: o colonialismo português. Thiago Bettin, professor de confeitaria do Centro Universitário Senac, disse para o jornal: "A gente foi colonizado por quem mais utilizou o açúcar." Conclui o jornal do açúcar a mais: "Influência da doçaria portuguesa." Gente, foi ao contrário: o açúcar subiu o Atlântico. Intercâmbio que os portugueses só podem agradecer: da dádiva, e cuidando dela, fizeram a boa doçaria portuguesa (herdando já as misturas coloniais). Também há maus doces portugueses, mas a culpa é mesmo da preguiça de quem cá os faz. Outra coisa: o doce porcaria chama-se assim por causa do brigadeiro Eduardo Gomes, oficial da Força Aérea brasileira. Não, no tempo colonial ainda não havia aviação.

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