sexta-feira, 27 de junho de 2014

Leituras









Resistir à tentação de responder à chungaria provocadora que Seguro ininterruptamente despeja é a melhor atitude para Costa e restante equipa. Essa contenção tem revelado em toda a sua glória a qualidade política, cívica, e até humana, daqueles que querem fazer do PS uma extensão da direita decadente que traiu e afundou Portugal. O episódio da Isaura Martinho, tão degradante que chega a causar vergonha alheia, foi legitimado pelos tenentes de Seguro, explicitamente, e pelo fundador da “nova forma de fazer política”, implicitamente. Depois disto, já não há desculpas para ninguém e a História fará o seu caminho.
Porém, o silêncio de Costa, quando se quebrar, terá de libertar um verbo implacável – sob pena de se estar a repetir a cobardia de Seguro, o tal passaroco à solta depois de 3 anos em auto-anulação dentro de uma gaiola, como o próprio fez questão de anunciar publicamente. É que a gravidade dos dislates nascidos da raiva de Seguro não pára de aumentar.
Na entrevista à Renascença, Seguro atacou o próprio partido que dirige usando o mesmíssimo argumento que a direita passou a usar quando viram o desastre dos números além-Troika a surgirem, logo nos inícios de 2012: “Este é o Memorando de Sócrates, o PS é que negociou e assinou o Memorando, nós não tivemos nada a ver com ele e apenas estamos no Governo a cumprir ordens porque somos muito bons rapazes.” Até esse período, para os direitolas, o Memorando era o que de melhor poderia ter acontecido neste país, pois vinha aí a estranja pôr ordem na porqueira. Catroga ululante garantia ter sido ele quem tinha imposto o que de mais importante ia ser assinado e Passos assumia que entre o seu programa de governo e o Memorando havia menos diferenças do que entre dois gémeos monozigóticos. Aliás, acrescentava Passos na sua fúria demiúrgica, se havia algo a censurar era não se ter ido ainda mais longe e muito mais longe. Coisa que de imediato ele se encarregou de mostrar em que consistia. Ora, foi esta cassete que Seguro foi buscar e que faz sua. Como não é provável que algum jornalista o obrigue a explicar o que teria feito em 2011 com um acordo que evitava o resgate chumbado no Parlamento e com um Presidente da República a pedir à rua para derrubar o Governo, espero que ao menos Costa não tenha qualquer misericórdia nesta linha de fronteira onde não pode haver qualquer cedência. Se Seguro quer validar a retórica canalha da direita sobre a crise de 2008 a 2011, não pode ficar pedra sobre pedra até se tirarem daí todas as consequências para o futuro do PS.
Também nessa entrevista – para além da imagem ridícula, se não for já doentia, que dá de si como líder – Seguro acusa Costa de ser o responsável pela violência que sobre o mesmo Costa se tinha abatido por iniciativa dos apoiantes de Seguro. Esta faceta passivo-agressiva, vinda do propalado rei da transparência e da ética, não merece especial comentário. Por ser aquilo que grotescamente é. Merece só que não seja esquecida – nunca mais enquanto o passaroco almejar ter poder político.

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