segunda-feira, 5 de maio de 2014

Obama, Hillary, a Casa Branca e a imprensa

FOTO: The Washington Post
N. G. >  A capacidade de auto-paródia é uma expressão maior de inteligência. E na edição deste ano do Jantar dos Correspondentes na Casa Branca Barack Obama mostrou uma vez mais porque é não só um dos melhores oradores da história recente da política como representa um modelo de modernidade e de capacidade em representar o melhor de uma classe nem sempre merecedora da admiração de quem vota. No seu discurso soube parodiar os problemas técnicos que enfrentou o seu programa de saúde (que, muito contestado, não deixa de ser uma das grandes conquistas sociais e políticas da sua administração). 

Mas o grande momento deste bem humorado discurso chegou quando fez uma dedicatória à Fox News, dizendo que por um lado a estação de televisão teria saudades dele... E, depois, que teriam mais dificuldade em convencer o eleitorado norte-americano de que Hillary seria queniana... 

Esta aparentemente ligeira referência representa a primeira vez que Obama sugere uma possível sucessão. E depois de muitas dúvidas sobre de o seu vice-presidente Joe Biden teria pretensões a uma candidatura e a um eventual apoio de Obama, a menção a Hillary Clinton (que ainda não anunciou uma candidatura mas tem já uma “máquina” em andamento) pode representar uma resposta. 

As várias sondagens efetuadas com possíveis candidatos dos dois maiores partidos norte-americanos têm dado Hillary Clinton como clara vencedora frente a todos os possíveis rivais republicanos. Ainda é cedo para dizer mais. Mas no meio de uma gracinha num jantar, Obama pode ter começado a passar o testemunho àquela que pode bem vir a ser a primeira mulher a chegar à presidência dos EUA.

J. L. > A tradição do Jantar dos Correspondentes da Casa Branca não pode ser dissociada do entendimento específico da noção de diálogo na arquitectura simbólica da sociedade americana. De facto, não se trata apenas, nem sobretudo, de um convívio mais ou menos informal em que cada parte se "vinga" da outra... Aliás, mesmo nesse aspecto, convém não simplificar, tal como Obama teve o cuidado de sublinhar: "(...) esta noite recorda-nos que temos realmente a sorte de viver num país em que os jornalistas podem, diariamente, dificultar a vida de um chefe de Estado — e depois, uma vez por ano, dar-lhe, a ele ou a ela, a oportunidade de, pelo menos, tentar devolver o favor." Para além disso, emerge a certeza de que a relação dos jornalistas com os políticos não é uma mera prova de verdade em que os primeiros teriam o privilégio unilateral de "moralizar" os outros. Como Obama voltou a fazer, importa reconhecer a diversidade interior do próprio espaço jornalístico — não falar para abstracções colectivas pode ser também uma subtil e inteligente postura política.

>>> Eis o video integral da intervenção de Barack Obama no Jantar dos Correspondentes da Casa Branca — a respectiva transcrição está também disponível no site da Casa Branca.






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