terça-feira, 22 de abril de 2014

Tirania | Ruy Belo

 


Espero   por   ti   olhar   ou   água 
inaugural dos gestos e dos dias 
Espero por ti na mais trémula madre 
lá onde tudo fica outra vez perto 
e a  morte mesmo nunca é demais
E o sol roda e roda e vai e vem
e dá e tira e modifica as coisas cá e lá fora de nós
e   assume   a  rápida extensão  do  campo   verde
à nossa volta, árvores sem sol
sobre o abismo humano apenas debruçadas
E eu pensar o sol é a morte do sol
Outono ronda a protecção do prado
permutam-se palácios e países
Por junto, a dez réis de mel coado
se pode reduzir tudo o que dizes,
pobre poeta pábulo dos pássaros
— os mais puros e os mais desaparecidos

Sem comentários:

Enviar um comentário