quarta-feira, 5 de março de 2014

Leituras


Cheira mal

Eduardo Cabrita, deputado do PS, é cronista no Correio da Manhã desde não sei quando. O seu estilo é contundente e várias das suas crónicas apareceram recomendadas aqui no blogue. Eventualmente, outros cronistas do CM também serão militantes ou simpatizantes do PS, desconheço e não estive sequer a averiguar. A opinião é livre nesse jornal e o elenco, como se vê, pretende-se democraticamente plural. De resto, o seu sucesso comercial não vem das secções de opinião, o método é todo outro. Pois, há dias, foi anunciada a nova contratação socialista para o esgoto: António Costa no CM.
Só existem duas possibilidades, a de o nosso santo António estar a escrever de borla para o Octávio Ribeiro ou a troco de dinheiro. Como a primeira hipótese é absurda até muitas provas em contrário, não arrisca nada quem apostar que o novel cronista considera que o dinheiro do CM não tem cheiro e é muito bem-vindo. Ora, estamos perante uma situação que incomoda 0,000000000001% da população portuguesa e a quem dou voz. Porque António Costa (i) não é uma figura secundária da política nacional, (ii) não teria qualquer dificuldade em ser cronista noutro jornal ou revista, bastaria escolher, (iii) ao entrar no CM como colaborador, assume que é colaborador do CM – portanto, que está interessado e empenhado em que esse jornal prossiga no caminho que o trouxe até aqui. António Costa, se tiver algum respeito pela lógica, até dirá que o CM deverá chegar ainda a mais portugueses, tal a excelência do seu serviço à comunidade. Obviamente, também não devemos esperar críticas suas à política editorial da casa quando sair uma manchete com a mãe de Sócrates apanhada a comprar um quilo de cerejas a um preço mais alto do que outro que o “repórter” do CM descobriu e fotografou para que o povo possa julgar os gastos luxuosos daquela gente tão pródiga que nem as cerejas escapam.
É muito fácil, demasiado, falar da plateia, mandar bocas aos artistas. Não faço ideia do que faria no lugar do António Costa perante o convite do CM. Não faço ideia se seria um político íntegro ou corrupto caso fosse um político. Não sei essas coisas da vida porque a vida não me levou para essas andanças. Mas sei que, no mínimo, o que a decisão do actual presidente da Câmara de Lisboa e provável futuro primeiro-ministro revela é uma concepção relativista, quiçá também cínica, da ética na política e da deontologia na imprensa.
Mesmo que o dinheiro que recebes, dinheiro que vem da miséria moral que já se inscreveu na História, não tenha cheiro, o que fizeste – agora que és o mais recentecompagnon de route do Paulo Pinto Mascarenhas – cheira muito mal. E não é fedor que saia com água ou se disfarce com perfumes, António.

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