sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Leituras

Campanhas ao negro

por Fernanada Câncio / Diário de Notícias



Gaspar fazia reuniões em off com jornalistas para dizerem em conjunto mal do Executivo anterior e cantarem loas à austeridade. Passos foi eleito na campanha interna do partido graças a um punhado de bloggers "especializados em desinformação" coordenados por Relvas, que também orquestrou a das legislativas; não teve estado de graça porque mal ganhou compensou todos (menos um?) com sinecuras, destruindo "a rede".

A primeira revelação é de André Macedo na sua coluna de ontem no DN, close-up de um ministro pintado pelos media como "um técnico puro" que afinal se desvendava em 2011, mal pegou ao serviço, como propagandista politiqueiro. A segunda efabulação é de um consultor de comunicação entrevistado pela Visão a propósito de uma alegada tese sobre "a importância da comunicação política digital na ascensão de Passos" e que assume a existência de campanhas negras contra o Governo Sócrates, com criação de "perfis falsos" no Facebook e no Twitter: "Se deixarmos uma informação sobre o caso Freeport num perfil falso e ele for sendo partilhado, daqui a pouco já estão pessoas reais a fazer daquilo uma coisa do outro mundo."

Estes dois vislumbres sobre a génese e a natureza do Governo Passos têm, até pela credibilidade muito distinta dos emissores, valores diferentes. Do que o André conta anota--se não que um político quis trazer a si os media - qual o espanto? -, mas que os jornalistas lhe saltaram para o colo, entusiasmadíssimos com as "ideias" da troika/Gaspar. Daquilo que o consultor de comunicação diz, entre infrene autopromoção, falsidades e absurdos (como garantir que em 2009 os blogues políticos tinham 30 mil visitas/dia e que a net foi fundamental para as vitórias), ressalta a ironia de certificar que os apoiantes do atual PM, incluindo "jornalistas no ativo" que, aliás, nomeia, fizeram tudo aquilo que imputavam furiosamente aos do Governo PS. Vai ao ponto de asseverar que a sua "equipa de voluntários" tomou como modelo de atuação o blogue Câmara Corporativa, que acusavam (emulando Pacheco Pereira, autor da teoria) de ser feito e pago a partir do gabinete de Sócrates, "usando informação privilegiada sobre pessoas": "Não éramos anjinhos, sabíamos bem ao que íamos", diz, gabando-se de que o seu "grupo" recebia "filet mignon informativo" do PSD de Passos através de "um mail fechado".

Mas a ironia não fica por aqui. Ao mesmo tempo que clama ter participado em campanhas ínvias e negras para manipular os media e a opinião pública, o entrevistado da Visão repete a acusação de que o gabinete do anterior PM fornecia "informação privilegiada sobre pessoas" ao tal blogue, sem que a revista exija dessa gravíssima alegação qualquer prova ou sequer exemplo. Às tantas, o tipo é mesmo, como pretende convencer (ou recordar?), muito bom no que faz. Ou temos de concluir que, como afiança, vivemos num "caldinho jeitoso para isto."


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  por Valupi / Blog Aspirina B

Então, primeiro abanquemos aqui: Central de contra-informação: vida e obra dos “blogueres «da corda»”. O que lá temos escarrapachado é uma versão do famigerado Carlos Santos, esse um caso de aguda patologia que chegou a ser explorado abjectamente pelo jornalismo de esgoto. Fernando Moreira de Sá joga numa divisão abaixo, a da maciça estupidez. No entanto, como ele em gáudio infrene celebra na entrevista, a sua e a restante estupidez do bando onde fazia pela vida era quanto bastava para dar a volta aos tontos dos jornalistas. Claro, há sempre um tempero que se pode acrescentar como hipótese a tão desgraçada imagem da imprensa: esses jornalistas não eram nada parvos, eram outra coisa. Pois.
 
E de seguida aterremos aqui: COMO ENTAO SE DISSE. É o Pacheco. O grande Pacheco. A dizer que ele já tinha dito. Que já tinha avisado. Que ele é que tem razão. E que Sócrates é que tem a culpa.
 
Não, o Fernando Moreira de Sá não merece mais do que estes 5 minutos de infâmia. É um pobre coitado que expõe candidamente o nível político e ético de Passos, Relvas e respectiva camarilha. E se não expõe, então será alvo de um caudal de processos nos próximos dias. Mas não vai ser, pois não? Ora, mas como se ele continua na posse dos seus computadores e telemóveis heróicos e trabalhadeiros? Pois é, maneiras que. Só que não estamos perante uma, perante uma, como é mesmo que se chama, perante uma… novidade. Uma novidade, exactamente. Não estamos perante uma novidade, certo? Ou seja, isto de ver aqueles que fizeram da calúnia e do ódio a sua práxis política a revelarem-se o que são é velho de 5 anos.
 
O que deve importar é o grande Pacheco. Porque a quem muito é dado muito deve ser exigido. E o Pacheco tem muito para contar, fruto saboroso dos muitos livros que possui, do muito que viveu, do muito que pensou, do muito que recebe pelas muitas actividades por onde espalha o seu inesgotável brilhantismo e pelo muito público que lhe dá atenção. Foi assim que andou a escrever e a vocalizar a troco de dinheiro que certos blogues de uma certa “FRENTE DA CALÚNIA” eram o braço armado do pérfido socratismo. E foi assim que, em nome do Povo, o grande Pacheco foi violar e escarafunchar a privacidade de Sócrates. Saiu do transe a garantir que tinha descoberto provas de algo diabólico. O facto de o seu comparsa de voyeurismo, o comunista João Oliveira, ter garantido precisamente o contrário não o perturbou. E depois foi descansar. Tinha conseguido o que queria, isso de hoje poder alarvemente bufar que ele é que sabe, que Passos é que safou o criminoso do Sócrates, que Sócrates é que criou o modelo para as pulhices dos ranhosos do laranjal.
 
O grande Pacheco é o nosso grande caluniador. E nunca irá pedir desculpa pelas mentiras que espalhou impunemente. Aliás, ao dia 14 de Novembro de 2013, continua a repeti-las. Que a comunicação social premeie este emporcalhamento sistemático do espaço público, e que o António Costa aceite credibilizá-lo partilhando o mesmo programa, eis algo que faz do infeliz do Fernando Moreira de Sá quase um santo.



Central de contra-informação:
vida e obra dos “blogueres «da corda»”
 



Uma amiga enviou-me esta manhã a entrevista que Fernando Moreira de Sá dá à Visão. Dois outros amigos enviaram-me mensagens a chamar a atenção para a entrevista, embora tivessem acrescentado não terem tido paciência para a ler até ao fim. Acho que a entrevista merece ser lida, até porque, se ele tivesse dois dedos de testa, não a teria dado.

Sá conta-nos o que aconteceu após ter mergulhado de cabeça no projecto para a tomada de poder de Passos Coelho, engrossando a legião de “voluntários” que chapinha(ra)m nas redes sociais.

Que diz ele para ter deixado Pacheco Pereira aos pulinhos logo pela manhã num post escrito a dois tempos (primeiro, realçando as artimanhas da trupe de Passos Coelho e, mais tarde, juntando um período ao post para procurar enfiar o CC no mesmo saco)?

Abdicando de comentar os delírios de Sá, que chega a pôr este escriba a laurear nas expedições oficiais ao estrangeiro, nem perdendo tempo a repudiar a inefável declaração de que os simpatizantes dos vários partidos são todos iguais, fica-se a saber que Passos Coelho, com o apoio do Dr. Relvas, montou uma gigantesca máquina de contra-informação para varrer as redes sociais de lés-a-lés com o intuito único de desqualificar os adversários políticos (Manuela Ferreira Leite, Paulo Rangel e José Sócrates).

Eis Moreira de Sá em discurso directo:
    1. Quem definiu a estratégia da contra-informação?
    “Não posso provar, mas desconfio que o mentor foi Miguel Relvas e tiro-lhe o chapéu. (…)”

    2. Em que consistia a contra-informação?
    “(…) Havia voluntários a defender as posições do Passos, mas sobretudo a atacar o Governo PS, no Fórum da TSF, na Antena Aberta, da RDP, e nos debates dos canais por cabo. Alargou-se a influência mediática. (…)”

    3. Os fóruns da rádio e da televisão eram facilmente manipuláveis?
    “Completamente. Se for preciso, provo. (…) Em 2011, o Sócrates foi ao Fórum da TSF. Decidimos entalá-lo e descredibilizar a coisa, exagerando nos elogios. Deu um bruaá enorme. O diretor da TSF teve de explicar-se por causa das críticas dos ouvintes, que consideraram aquilo uma coisa do tipo Deus no céu e Sócrates na terra. Deu-nos um gozo tremendo!”

    4. Quem dirigia a central de contra-informação?
    “Não vou dizer. (…) por trás disto tinha de estar Miguel Relvas, um visionário quanto à importância das redes sociais para levar o Passos aonde chegou. Não éramos anjinhos. Sabíamos bem ao que íamos.”

    5. Como funcionava a central de contra-informação?
    “Por exemplo: existia um mail acessível a um grupo fechado, através do qual recebíamos informações, linhas gerais, provenientes de quem estava a preparar o programa do Passos. No início, nem sabíamos quantos éramos. Cada um desenvolvia aquilo, nas redes sociais e na blogosfera, à sua maneira. Utilizávamos isso no Fórum da TSF, no Parlamento Global, da SIC, no Twitter, etc. No último confronto televisivo entre os três candidatos à liderança [Passos, Aguiar Branco e Rangel], condicionámos o debate. Só eu tinha três computadores à minha frente, em casa, além do telemóvel. Antes do debate, já tínhamos tweets preparados para complicar a vida ao Rangel. Nos primeiros minutos, começámos a «tuitar» como se não houvesse amanhã, dizendo que o Rangel estava nervoso e mais fraco do que o esperado. Criou-se um ambiente negativo que se propagou rapidamente. Ao fim de cinco minutos, ríamos até às lágrimas! Até opinion makers repetiam o que dizíamos! E o debate tinha apenas começado...”

    6. O mail «fechado» manteve-se nas eleições legislativas?
    “Sim. Com mais força e mais filet-mignon informativo.”

    7. Como faziam a campanha suja (designadamente do caso Freeport) contra Sócrates?
    A contra-informação era a praia do grupo [de Passos Coelho] à volta de Sócrates. Tínhamos nick names para as redes sociais, perfis falsos no Facebook e por aí adiante, mas éramos uns meninos do coro comparados com os tipos dele. Não há virgens nisto: em qualquer campanha eleitoral, existem centenas de perfis falsos, mas perfis com «vida», que incluem fotografias de «família», «clube de futebol», «gostos», etc. O segredo é ir pedindo «amizade» a pessoas da política e alargar os círculos de «amigos». Se deixarmos uma informação sobre o caso Freeport num perfil falso e ele for sendo partilhado, daqui a pouco já estão pessoas reais a fazer daquilo uma coisa do outro mundo.

    8. A central de contra-informação passou-se para o Governo após Passos se ter alçado a São Bento?
    “Álvaro Santos Pereira, do Desmitos, foi para ministro da Economia; Carlos Sá Carneiro entrou para adjunto do primeiro-ministro; Pedro Correia foi para o gabinete do Relvas; Luís Naves também, mais tarde; João Villalobos para a secretaria de Estado da Cultura; Carlos Abreu Amorim para deputado e vice-presidente do grupo parlamentar; António Figueira, do Cinco Dias, e de esquerda, foi trabalhar com o Relvas; Francisco Almeida Leite para o Instituto Camões; Vasco Campilho foi para algo ligado aos Negócios Estrangeiros; José Aguiar para o AICEP; Pedro Froufe para a comissão de extinção das freguesias; o CDS também recrutou no 31 da Armada. Houve outros. Só em ministros, secretários de Estado e assessores foi uma razia em blogues como o Albergue Espanhol, o 31 da Armada, Delito de Opinião, O Insurgente, o Blasfémias, etc.”

    9. O «cérebro» Relvas não tentou atenuar esta deserção de bloggers para o Governo?
    “Sim, ainda fui a um encontro de blogueres «da corda», na Presidência do Conselho de Ministros. (…) Mas continuava a haver um grupo disponível, ainda que amputado, para adoçar as medidas más, nas redes sociais e nos blogues, desde que a informação fosse enviada com antecedência. (…)”

Agora, caro leitor, tire as suas conclusões sobre os meios usados por estas canalhas para se alçarem ao poder.

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