sábado, 14 de setembro de 2013

Leituras

«Como é que um simples mortal pode discutir com os excelsos intérpretes da "realidade"?»




• José Pacheco Pereira, Saia aí uma "nova cultura política", se faz favor, em que se chame aos despedimentos "requalificação" [hoje no Público]:
    ‘O ministro Poiares Maduro, no estilo bastante arrogante com que faz declarações, diz que quer "uma nova cultura política para Portugal", coisa que ele sabe o que é, escolheu no lote de "culturas políticas", e que nos acena como "melhor". Repare-se que ele não se fica por pedir uma outra política, ou outras práticas políticas, quer nem mais nem menos do que uma "nova cultura política", ou seja, que pensemos de forma diferente.

    Muito bem. Embora eu não saiba o que é essa "nova cultura política" que não temos (e que se percebe que, no entender do Ministro, resistimos a ter), sei qual é a que temos, sei muito bem qual é a que o primeiro-ministro, o vice-primeiro-ministro, o Governo e o actual poder têm. E sei que sem essa "cultura política" ser combatida, não há nenhuma "nova cultura" que se imponha e muito menos uma "melhor cultura política". E sei muito bem qual é o contributo que o ministro Poiares Maduro pode dar para essa "nova cultura política": demitir-se de imediato e denunciar o discurso, a prática, a linguagem do actual poder, a mais velha e perniciosa cultura política que existe em Portugal, uma mistura de muita ignorância, apego ao poder, desprezo pelos portugueses, partidocracia e dolo. Em que casa é que ele pensa que está?

    Mas Poiares Maduro entrou para o Governo para substituir Relvas como ministro da propaganda, portanto a "novidade cultural" que podia trazer seria de imediato incompatível com o cargo e as funções se ele fosse menos ambicioso e se se respeitasse intelectualmente a si próprio, ou seja, se tivesse uma outra "cultura política". Ele não podia deixar de saber ao que vinha e para que vinha. E sabia-o tão bem que de imediato se colocou na função de repetidor da propaganda governamental naquilo em que ela é mais dolosa, função que tem desempenhado até ao dia de hoje, como circulador de falsos argumentos e de afirmações manipulatórias. O intelecto e a arrogância ajudam, a subserviência acrítica de muita comunicação social faz o resto.

    (...)

    Verificou-se que o país, jornalistas e políticos não estavam à altura dos méritos dos seus briefings, por isso, continuar a fazê-los, seria deitar pérolas a porcos, fazer coisas como se faz em Inglaterra para portugueses. Depois, está-nos sempre a chamar atrasados e relapsos devido à "cultura velha" que temos, que tem todos os defeitos de não "ser baseada na verdade e na realidade em que vivemos", uma variante da fórmula hoje muito em voga para substituir as "inevitabilidades" e o "não há alternativas" do período Gaspar, e da fase inicial de adoração da troika. Essa fórmula é muito comum nos textos de Joaquim Aguiar e de João César das Neves, que acham que existe uma espécie de monismo da "realidade", em que esta é interpretada como sendo um estado natural, que só por ilusão, cegueira, engano e irresponsabilidade se pode ignorar. Eles são os "realistas", os outros são os "iludidos" ou, pior ainda, os vendedores de ilusões.’

Sem comentários:

Enviar um comentário