quarta-feira, 22 de maio de 2013

Leituras

Martim, Raquel e o combate pífio

por Ferreira Fernandes / Diário de Notícias

O último Prós & Contras honrou o seu nome de duelo: à minha direita, Martim, de 16 anos, empresário de sucesso; à minha esquerda, Raquel, investigadora, esquerdista. Martim expôs a carreira (começou aos 15): a ideia (roupa desejada e barata), a execução programada (colegas para divulgar, garagem para as primeiras encomendas, subcontratar empresas...), o futuro radioso (já exporta...). Foi então que sobre o nosso Mark Zuckerberg das camisolas lhe saltou ao caminho Raquel, como numa greve selvagem: "Tens ideia donde as camisolas são feitas? Na China, com trabalhadores a dois dólares por dia?..." Martim: "Não, numa empresa portuguesa..." Raquel: "Com trabalhadores que ganham o ordenado mínimo que não é suficiente..." Martim: "É preferível ter o ordenado mínimo a não ter emprego." Vitória de Vanderbilt sobre Karl Marx, por KO. Mas, como isso tem sido a notícia dos últimos 150 anos, mais valia termos ouvido outro debate. De Martim, aplaudo-lhe a iniciativa e espero que ela perdure para lá de tão verdes anos, mas não aplaudo mais porque tanto sucesso em tão curto tempo me parece herdar qualquer coisa que não só dele (e de que não se falou). E, não apesar, mas justamente por ter 16 anos, a pátria espera dele outras lições que não vender camisolas. À Raquel aconselharia não cuspir sobre o ordenado mínimo: 1) porque é mesmo melhor do que não ter emprego e 2) se não fosse ele havia quem não pudesse sair à rua e ir ao Prós & Contras.





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