Leituras
Martim, Raquel e o combate pífio
por Ferreira Fernandes / Diário de Notícias
O último Prós & Contras honrou o seu nome de duelo: à minha direita,
Martim, de 16 anos, empresário de sucesso; à minha esquerda, Raquel,
investigadora, esquerdista. Martim expôs a carreira (começou aos 15): a ideia
(roupa desejada e barata), a execução programada (colegas para divulgar, garagem
para as primeiras encomendas, subcontratar empresas...), o futuro radioso (já
exporta...). Foi então que sobre o nosso Mark Zuckerberg das camisolas lhe
saltou ao caminho Raquel, como numa greve selvagem: "Tens ideia donde as
camisolas são feitas? Na China, com trabalhadores a dois dólares por dia?..."
Martim: "Não, numa empresa portuguesa..." Raquel: "Com trabalhadores que ganham
o ordenado mínimo que não é suficiente..." Martim: "É preferível ter o ordenado
mínimo a não ter emprego." Vitória de Vanderbilt sobre Karl Marx, por KO. Mas,
como isso tem sido a notícia dos últimos 150 anos, mais valia termos ouvido
outro debate. De Martim, aplaudo-lhe a iniciativa e espero que ela perdure para
lá de tão verdes anos, mas não aplaudo mais porque tanto sucesso em tão curto
tempo me parece herdar qualquer coisa que não só dele (e de que não se falou).
E, não apesar, mas justamente por ter 16 anos, a pátria espera dele outras
lições que não vender camisolas. À Raquel aconselharia não cuspir sobre o
ordenado mínimo: 1) porque é mesmo melhor do que não ter emprego e 2) se não
fosse ele havia quem não pudesse sair à rua e ir ao Prós & Contras.
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