quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Calo-me / Manuel António Pina

Calo-me quando escrevo
assim as palavras falam mais alto e mais baixo.
Nada no poema é impossível e tudo é possível
Mas não arranjo maneira de entrar no poema
e de sair de mim  e por isso a minha voz é profunda e rouca
e por isso me calo (e como me calarei?)
No entanto ninguém é tão falador como eu
Nem há palavras que não cheguem para não dizer nada.

E vós também:não me faleis de nada ou falai-me.
Porque não sabeis o que dizeis.

Sem comentários:

Enviar um comentário