quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Básico é, direita o põe

 


Pedro Lomba escreve hoje, com grande dogmatismo e capciosismo, um artigo sobre os chamados “socráticos” e a sua sede de vingança, comparando-os aos Bourbons, uns eternos usurpadores do poder, mas historicamente perdedores. Muito compreensivelmente, não interessa a Lomba avaliar nem sequer referir coisas tão chãs e tão mais contemporâneas como a falta de qualidade do atual líder do PS: as suas intervenções desastradas, a sua aversão ao desafio, a sua insegurança e inconsistência, o seu aparelhismo cego e quase doentio, a sua vacuidade e a sua deslealdade, grandes razões para o descontentamento que natural e generalizadamente suscita, nomeadamente entre gente que o elegeu e que não simpatizava com Sócrates. Aconselho, pois, o Pedro Lomba a deixar-se de teorias sobre as lutas e os desaires da realeza (vá lá…) e a conformar-se com personagens menores como Relvas, Passos ou Cavaco, dos quais não rezará certamente a História, mas que ridicularizam esta pátria.

Costa tem visibilidade, é um homem inteligente e um político competente, que constata, ele próprio, as deficiências do Seguro e tem delas dado conta publicamente. Costa teme, com razão, pelo futuro do PS. Pedro Lomba preocupa-se mais com o futuro do PSD. Por isso, entende que deveria ser proibido alguém desafiar a fraca liderança do partido adversário. E então escreve.
Que Sócrates foi um excelente primeiro-ministro, não tenho quaisquer dúvidas, bastando para o confirmar, se mais nada fosse, a raiva com que a direita a ele reagiu e reage – misto de inveja, humilhação e impotência. Também já sabemos que, para a direita, Seguro é ouro sobre azul, não precisa este seu porta-voz com coluna no Público de tomar vias sinuosas para disfarçar essa benesse. Depois, é absolutamente claro que qualquer contestação a Seguro, um líder nulo mas útil, levará, vindo da direita, o rótulo de “socrática” – o que nos permite concluir que o que interessa a muita gente é manter o Tozé no posto. Mais básica do que esta direita não há.
Aqui fica boa parte da elaboração:

«Os socialistas da chamada família socrática, em transumância desde que José Sócrates perdeu as eleições, não gostam de António José Seguro. Vai daí, e porque os partidos atiçam estes comportamentos tribais, uniram-se em torno de António Costa, à espera de o ver quanto antes na liderança do PS. Os socráticos presumem que Costa é a única forma que lhes resta para sobreviverem com algum peso, preservando com isso as vestes do seu etéreo passado. Ora, a relação com o passado é precisamente a difícil questão que António Costa tem para resolver. Se o conseguirá no futuro, não sei. Sei que não o consegue agora. Costa não ignora que as suas hipóteses diminuem se ele for usado, como está a ser, como peão de uma estratégia de “resocratização” do PS. Quase dois anos depois, o socratismo mexe-se. Interessa perceber como. Sócrates perdeu as eleições em Junho de 2011, saiu desacreditado e deixou o país in extremis sob tutela estrangeira. Mas o socratismo já não depende hoje da presença do antigo líder. Tornou-se uma espécie de entidade não personifi cada. Estamos a falar de muita gente na política e à volta dela que quer acima de tudo ajustar contas com o passado, com as instituições e até com o povo que, desgraça, não lhes fez a justiça devida. Na História, estes momentos de revanchismo definem uma espécie sombria de perdedores que, de facto, nunca aceitaram por que perderam. Por eles, não perderam de todo. Os Bourbons da corte de Carlos II em 1660 ou de Luís XVIII em 1815, por exemplo. Quando regressaram ao poder, não estavam propriamente interessados em governar. Queriam vingar-se dos que se tinham desviado do caminho certo, dos que tinham matado o rei. Queriam vingar-se das instituições, mesmo que para isso tivessem que fazer tábua rasa do passado e punir uma parte dos ingleses e franceses. A Restauração acabou por ser um regresso fugaz. No nosso Portugal de 2013, esta família de órfãos sonha avidamente em vingar-se das instituições, dos políticos, dos eleitores, de uma sociedade que os rejeitou, porque foi essa mesma sociedade, as suas instituições e eleitores que aqui liquidaram o “rei”.[…]»

(Pedro Lomba no Público de hoje)


 por Penélope , Blog Aspirina B

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