quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Asfixia democrática? Nada disso

Valupi |Blog Aspirina B




O que se passa com a RTP compara inevitavelmente com a TVI. Neste caso, foi preciso montar uma operação de escutas ilegítimas para apanhar registos privados de Sócrates, os quais foram utilizados para um ataque judicial, político e mediático. Essa manobra foi explorada para fins eleitorais, e tinha como finalidade conseguir que o Ministério Público acusasse Sócrates e o levasse a tribunal. Seria o seu fim político e uma reedição do caso Casa Pia quanto à decapitação da liderança política do PS. Como não se conseguiu amedrontar o Procurador-Geral da República e o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Belém e Lapa lançaram calúnias sucessivas através dos jornalistas engajados de forma a condicionarem as eleições de 2009, passando depois a ocupar a Assembleia da República durante meses com um circo que nos deu a ver o Crespo a tratar os deputados como se estivesse na Feira de Carcavelos e a Moura Guedes a berrar que o Rei de Espanha podia ser muito bom a caçar elefantes mas que nem ele a conseguia abater. O tema da “asfixia democrática” – lançado por Paulo Rangel no discurso do 25 de Abril de 2007 na Assembleia e tendo usado originalmente a expressão “claustrofobia democrática” para se referir à nomeação de Pina Moura para a Prisa (o Pina Moura, esse tentáculo de Sócrates!)- teve no Pacheco o seu Galahad, passando este infeliz a cronometrar o telejornal da hora de almoço da RTP à procura do Santo Graal nesses segundos perdidos ou acrescentados nas peças emitidas acerca do Governo e da oposição, diferenças que podiam ser pequenas aos olhos do vulgo mas que provavam o poder e alcance da asfixia, garantiu vezes sem conta sem se rir. Acabou fechado numa saleta da Assembleia da República a chafurdar na privacidade de um concidadão que odiava. Fontes anónimas garantem que o Pacheco ainda hoje guarda num frasco uma meia que conseguiu gamar ao mafarrico e que treina regularmente os seus cães da Marmeleira para quando chegar o dia da caçada final. Também teve graça descobrir através do magnifico trabalho das comissões de inquérito parlamentar, e ao arrepio das atoardas dos ranhosos alvares, que o Correio da Manhã foi o jornal que recebeu mais publicidade do Estado em 2009, seguindo-se o Público e o DN, algo que nem com um petroleiro cheio de cola Araldite dava para colar à campanha negra da “asfixia democrática”. Moral desta escabrosa história: um negócio que nunca aconteceu, a que se juntaram centenas de notícias baseadas em escutas que não deviam ter acontecido, gerou acontecimentos nunca antes vistos de baixa política e degradação do regime.

Agora estamos perante o espectáculo de termos um Ministro com a pasta da comunicação social que é, de facto, mentiroso e chantagista, o qual já admitiu que apenas se mantém no Governo para conseguir destruir a RTP e acabar com esse bastião de independência jornalística (seja lá qual for a sua distância da perfeição), cultura e identidade. Que maravilhas se conseguiriam apanhar nas conversas privadas de Relvas caso fosse escutado? Que dirá julgando-se a coberto de ouvidos estranhos o homem que disse em público aos filhos de Sócrates para terem vergonha do pai? Que conversas em privado terá este ser com aqueloutro que não se inibe de insultar o Presidente do Tribunal Constitucional apenas porque lhe pediram para abrir a boca antes de ter tido tempo de pensar e que trata os portugueses como se estivesse na taberna a dar lições de moral ao povo? Como é que estes melros fazem os negócios que andam a fazer e que querem fazer até não haver mais nada para vender? Deve ser algo lindo, homérico, mas felizmente não temos acesso a tal festim.

A direita controla a comunicação social. Todos vimos o que se permite fazer com esse poder, alimentado e escudado por um sistema de Justiça absolutamente impotente para travar, sequer diminuir, a perseguição e devassa que se fez a políticos socialistas. Sempre e só a políticos socialistas. Todos vimos a resposta selvagem que deu à mera suspeita de poder ter o seu monopólio beliscado. Acabando com a RTP, a direita acaba com uma instituição onde não podia aplicar os métodos violentos de que precisa para vencer pela calúnia e pelo medo. Não será uma asfixia democrática, vai ser mesmo um ataque cardíaco na liberdade de imprensa

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