
É impressionante ler as peças jornalísticas dos diretores dos jornais portugueses e da hierarquia mais próxima. Servem e bajulam este governo de uma forma escandalosa. Quase não há um que destoe. DN, JN, jornal i, Correio da Manhã e Expresso fazem a direção do Público parecer um órgão objetivo e isento. Abro uma exceção para o Jornal de Negócios.
Ricardo Costa, do Expresso, faz o favor de, neste sábado, escrever uma carta a Angela Merkel em nome de Passos Coelho (“Carta de Pedro aos europeus”), enumerando o que considera serem os trunfos para o Governo obter uma revisão das condições do empréstimo. Ignorada por completo no seu cérebro a hipótese de incompetência total como origem da recente derrapagem colossal das contas, RC centra o seu argumentário nas qualidades de bom aluno personificadas em Gaspar e Passos, fazendo-lhes um elogio e querendo com isso ajudar o amigo primeiro-ministro. Ridículo. No mesmo jornal, Henrique Monteiro não vai além do suave e simpático “cobardolas” para apelidar os governantes atuais que, entre outras coisas, não ousam renegociar as PPP. São uns cobardolas, diz ele. Cobardolas? Imaginamo-lo a referir-se a Sócrates com esta brandura! Noutras colunas, destes ou de outros membros da direção, apesar de uma ou outra crítica, a gentileza e a contenção são também notórias. Chego a temer que Nicolau Santos não consiga manter-se por muito tempo à frente do suplemento de Economia.
Dos editoriais de Marcelino no DN nem vale a pena falar, tal é a colagem. Hoje, por exemplo, a propósito de mais um elogio a Paulo Portas e à sua fantástica diplomacia económica: “Nem todos os novos e possíveis parceiros comerciais são exemplos de democracias perfeitas. Mas, nunca deixando de marcar a distância, fazer as devidas críticas, cumprir as regras e defender os direitos humanos, são os que existem e com os quais todos os países estão a negociar”. Pois. O que não se dizia do anterior Governo e das idas à Venezuela e outros países da América Latina e norte de África!
O JN, por sua vez, perdeu todos os traços distintivos que faziam dele um jornal sério do norte no tempo de Leite Pereira. Editoriais do CM e do i, abstenho-me de comentar.
Atendendo a que a orientação política dos jornais e tudo o que daí decorre para as notícias propriamente ditas é plasmado nessas colunas, o panorama é desolador. Apenas salvo pelos artigos de opinião dos colunistas convidados, que, nuns mais do que noutros, traduzem o respeito por um certo pluralismo. Mas é triste. E revelador.
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