segunda-feira, 23 de julho de 2012

Da série “Coisas que Seguro nunca dirá”

Valupi | Blog Aspirina B




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4. A eficaz campanha montada pela actual maioria para demonizar José Sócrates teve danos colaterais graves. Dois deles foram a condenação dos institutos públicos, como forma de gestão de entidades públicas não pertencentes à administração directa do Estado, e a atribuição às parcerias público-privadas (PPP) de todos os malefícios do endividamento público, para além de acusações nunca provadas, ou mesmo improváveis, de fonte de corrupção. Os argumentos, como em todos os tribunais de fé, foram sempre fictícios: que os institutos públicos faziam o trabalho de direcções gerais, sendo por isso dispensáveis, que os seus dirigentes detinham prebendas e alforrias inaceitáveis, que os institutos se endividavam à tripa-forra ou detinham elevados e ocultos depósitos bancários. Ajudou à missa um venerando conselheiro reformado do nosso órgão julgador das contas públicas, desmultiplicando-se em entrevistas e publicações. A base da doutrina, pois que de jurisprudência se não tratava, eram umas auditorias já famosas pelas frases intermediárias que faziam as delícias dos media, permitindo-lhes o uso repetido do verbo “arrasar”, normalmente mais cautelosas na parte das conclusões; acresce que forçados a recorrer a opiniões externas, nem sempre tais auditorias se apresentam com a qualidade técnica recomendável. Quase sempre tais montanhas pariam ratos, apenas. Mas impressionavam incautos e desconhecedores, cumprindo com diligência a missão posterior de “arrasar” a gestão dos governos Sócrates. Ora os institutos públicos não foram criação dos fatídicos últimos dez anos, nem as PPP irão desaparecer do nosso universo. Os primeiros remontam, em todos os países, ao papel crescente da administração do Estado social moderno; as segundas foram importadas da União Europeia onde são a quinta-essência das “alavancagens” financeiras necessárias para o crescimento e o emprego. Destruir a credibilidade das PPP é o mesmo que dizer ao Banco Europeu de Investimentos (BEI), “nós queremos o vosso dinheiro para crescer e criar emprego, mas rejeitamos as PPP”, ou seja, uma condição descredibilizante e ridícula, que deita fora a criança e guarda a água do banho.

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Correia de Campos, Público, 23 de Julho de 2012

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