Valupi | Blog Aspirina B
A iniciativa do ACP ao fazer uma participação criminal contra ex-governantes do PS não é só uma originalidade nascida do ar empestado do tempo, é igual e simultaneamente uma acção política com natureza e objectivos precisos. Por um lado, escolhe um só Governo e um só partido como alvos, deixando de fora tantos outros casos de tantos outros Governos e respectivos partidos que entrariam dentro dos critérios aludidos para a acção. Por outro lado, quem dá a cara pela manobra repete a cassete laranja da procura da “verdade” e ainda tem o topete de fazer uma associação canalha entre as SCUT e os cortes dos subsídios e restante austeridade. Mensagem: a culpa dos males que se abatem sobre a população é do anterior Governo e seu bando de criminosos. Para que ninguém tenha dúvidas acerca do que está aqui em causa, os burlescos Medina Carreira e João Duque estão indicados como testemunhas de acusação.
Perante este número, qual deveria ser a posição do PS, que devia Seguro dizer? Bom, deixa cá ver assim de repente: podia começar por desmontar a hipocrisia política inerente, depois expor a sua lógica partidária e por fim referir o absurdo legal que se esconde no ataque calunioso. Porém, contudo, todavia, Seguro não fez nada disso. Preferiu dizer isto:
Como sabe, eu defendo uma separação entre aquilo que é político e aquilo que é da Justiça. À política o que é da política e à Justiça o que é da Justiça. Se houver nessa matéria motivos para a Justiça agir, então a Justiça tem que agir. Mas esse, como sabe, é um critério que utilizo em tudo na vida pública. Quando há dúvidas, a Justiça que investigue.
É uma reposta que, se a sonsice pagasse imposto, deixaria Portugal com superavit para as próximas décadas. A Seguro não ocorreu mais nada do que falar de si e apenas para tranquilizar os indígenas acerca da sua crença na separação de poderes teorizada por Montesquieu no século XVIII, tópico que a sua equipa de comunicação e estratégia sabe andar a ser discutido acaloradamente à boca pequena nas paragens de autocarro e mijatórios públicos. Poderemos então antecipar que em futuros processos contra ex-ministros socráticos, venham do sindicato dos rebocadores liderado por Carlos Barbosa ou de qualquer outra entidade da sociedade civil já encorajada por Passos Coelho, teremos direito a receber de Seguro esclarecimentos definitivos a respeito da sua posição face à escravatura nas Américas, a Guerra do Ópio e o exílio da família real para Inglaterra.
Como é óbvio, a declaração de Seguro revela uma cumplicidade moral com a acusação lançada. Por isso o DN a fez manchete na edição de domingo, fanáticos como são nos continuados ataques a Sócrates e apenas se distinguindo do Correio da Manhã como o softcore se distingue do hardcore na indústria pornográfica. O homem é tão transparente naquilo que se esforça tanto para esconder que chega a sorrir de satisfação no meio das vacuidades que largava em modo de vingança passivo-agressiva. Seguro, o impoluto, o socialista que jurou limpar o partido da porcaria que teve o desplante de o ignorar, refulge de santidade graças ao mais baixo da mais baixa política.
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