quinta-feira, 10 de maio de 2012

PS vai mal

Penélope | Blog Aspirina B




Já sabemos que Seguro, por sua vontade, não protesta, não se opõe e não entra em conflito com o Governo. Tinha uma estratégia matreira, sim, mas era em relação ao seu antecessor socialista. Aparentemente a meta era a liderança do PS e, de estratégia mais pensada, aquela era a única que tinha. Içado a líder por um processo coletivo de cegueira e um exercício do absurdo, cultiva a elegância, ou seja, o apagamento, e espera que o Governo caia de desgaste, sem que para isso contribua com o mais pequeno gesto e denotando uma capacidade extremamente limitada para avaliar as poderosas técnicas dos partidos seus adversários. Sabemos também que, se pressionado, lança frases formalmente determinadas e agressivas, que levam alguns otimistas a acreditar que “agora é que é”. Também vamos sabendo que não é.

Se a atual direção do PS pensa, e deve pensar porque o diz, que este Governo já foi e continua a ir muito para além do acordado no Memorando, agravando com isso ainda mais a situação do país e a espiral recessiva, num propósito que mais não é do que a implantação de um modelo ideológico de sociedade (para o que, diga-se, tem toda a legitimidade eleitoral) do qual o partido socialista discorda, devia agir em conformidade e demarcar-se a cada passo mais largo dado pelo Governo. E já são muitos, o que aumentou a distância em relação ao acordado em Abril de 2011 para um ponto escandaloso de não retorno. Não é isso que faz esta direção. Arranja um sarilho interno por causa da votação do orçamento, por causa disto e por causa daquilo, nomeadamente a disciplina de voto, outro sarilho por causa do Pacto/Tratado orçamental europeu, deixa que chamem socráticos aos que lhe exigem postura de oposição e acaba a dizer que o Governo deve ir sozinho pelo caminho escolhido. Mas agora, afinal, o memorando está a ser muito bem cumprido e o partido não vai rompê-lo. Pois é, medo e uns ziguezagues e incoerências que não dignificam nenhum dos protagonistas, nomeadamente Zorrinho, que, vá-se lá saber porquê, dá o peito às balas por tão fraco líder, e que confirmam, se dúvidas ainda houvesse, a total inépcia desta direção, que só envergonha.

O Governo tem maioria absoluta. Não precisa do apoio do PS para governar. Precisa dele, sim, mas para peão da sua estratégia. O discurso que se ouve por essas televisões, segundo o qual é muito importante que o PS apoie as medidas do Governo em nome da estabilidade e que Portugal é diferente deste e daquele país por ter os principais partidos do arco governativo vinculados a um programa externo é o discurso conveniente para domar e anular o principal partido da oposição que, convém lembrar, perdeu recentemente o melhor líder que alguma vez teve e do qual se devia orgulhar. Seguro engole sem minimamente se engasgar essa medicação oral que lhe enfiam todos os dias pela goela abaixo. E amolece. Mais: dá-a a beber a outros, que amolecem também.

Nem sempre concordei com Mário Soares. Entre outras coisas, as opiniões elogiosas de Passos que emitia há um ano foram incompreensíveis. Muitas vezes deixa-se levar por ódios pessoais a nível partidário. Não impede que tenha sido um grande homem e que mantenha uma capacidade de intervenção admirável. Tendo a dar-lhe razão nestas esporadas que decidiu dar recentemente ao PS. Perante a situação internacional, fazer coro com os idiotas que nos governam é um grande erro estratégico e político.

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