quarta-feira, 2 de maio de 2012

A amarga economia de Passos

Vega9000 | Blog Aspirina B




Há momentos e imagens que definem uma governação, e ontem foi um deles. Ontem foi o dia que, numa campanha inédita, o Pingo Doce ofereceu a todos a possibilidade de encher a dispensa por metade do preço. Uma campanha simpática, pujante, até bombástica, muito adequada para os dias que vivemos, foi certamente o que pensaram os responsáveis. E os resultados não se fizeram esperar: lojas a abarrotar de gente, tumultos, polícia, prateleiras vazias, um cenário desolador dentro das lojas, gente horas à espera pela sua oportunidade. Muita, muita gente. Muito mais do que qualquer manifestação.

Agora, não vou enveredar pela temática da escolha do dia. Foi de propósito, foi “uma provocação”, como disseram muitos? É possível, é até provável. Mas depois do que se assistiu ontem, acho que é uma questão que pode perfeitamente passar para segundo plano.

O que a mim me interessa é isto: todos os dias somos bombardeados com números de desemprego, números de impostos, de cortes, de datas sempre mais além para repor subsídios, de juros, de entregas de casas à banca, de crescentes dificuldades de uma classe média que vê o seu nível de vida e o seu futuro ir por água abaixo. Todos os dias os media enchem páginas e horas televisivas com politicas do governo, com as consequências da crise, com doutas opiniões de respeitados qualquer coisa sobre o que se passa.

Mas ontem vimos o que se passa. Sentimos. Mesmo à porta de nossa casa, onde habitualmente fazemos as compras. Ontem, o desespero de quem, para encher mais a dispensa, para agarrar a oportunidade de esticar o orçamento, para se permitir um desafogo temporário, passou horas na fila de caixa – os nossos vizinhos, amigos, conhecidos, familiares, nós – mostrou, num só dia e numa só acção, as consequências reais das políticas seguidas. Ontem, o Sr. Alexandre Soares dos Santos conseguiu o que nenhum responsável da oposição, nenhum sindicalista, nenhum comentador tinha até agora conseguido: mostrar de maneira claríssima o que é a economia de Passos Coelho. Devemos-lhe todos um enorme agradecimento. E não é pelos descontos.

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