sexta-feira, 20 de abril de 2012

Quem tem medo da razão?

Valupi | Blog Aspirina B




Basílio Horta fez também críticas a projetos de promoção da imagem do país no exterior desenvolvidos no primeiro Governo de José Sócrates.

«Não se vende a imagem de Portugal com uma série de personalidades do mundo, como com o [Cristiano] Ronaldo, porque não leva a nada. Vende-se a marca Portugal em conjunto com as marcas portuguesas, porque não há marca Portugal sem marcas portuguesas», defendeu o ex-presidente do AICEP.


Fonte

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Como saberá quem já participou numa reunião de condóminos, o estado natural da condição humana não é o da unanimidade. Encontrar quem discorde dentro de um partido, dentro de um grupo parlamentar e dentro de um Governo é a mais banal normalidade. Até a discordância dentro de um mesmo indivíduo está de acordo com um padrão de inteligência elevado. Assim, muitos foram os que discordaram das escolhas da governação de Sócrates por excelentes razões, o que, pese a eventual excelência das suas eventuais discordâncias, não chega para considerar que tivessem a razão toda. Retirar aos adversários a posse de alguma razão legítima foi precisamente o que a direita portuguesa fez por ausência de ideias próprias, e é o que a esquerda sectária invariavelmente faz por obsessão com as próprias ideais que tem guardadas num cofre cuja chave está perdida há décadas.

A vitória de Seguro no PS foi também a vitória daqueles que se queixaram publicamente de não haver debate no partido, de estarem a ser impedidos de criticarem a liderança e de espalharem pelo povo as suas brilhantes alternativas. Era uma acusação hilariante, tendo em conta que eles tinham passadeiras vermelhas para virem à comunicação social dizer o que lhes desse na real gana, incluindo, como vários militantes socialistas fizeram, alinhar aberta e desvairadamente nos ataques ao carácter de Sócrates. Logo, era de esperar que agora todo o estendal de queixas viesse a público, finalmente libertos dessa asfixia socrática. Este era o tempo para expor todos os erros dos anteriores dois Governos, demonstrar como foram perniciosos para os pobres, os trabalhadores, as mulheres, as crianças, os velhinhos. Revelar as infames alianças com o grande e imperialista capital, a ubíqua corrupção dos anteriores dirigentes e os vícios ditatoriais do ex-líder. Seria um favor que estariam a fazer a Portugal e ao PS, devolvendo a decência à política nacional e restituindo o bom nome ao partido, escusado será explicar.

É difícil saber o que nos prejudica mais, se a boçal e perversa redução da política ao moralismo, estratégia da direita, se o apagamento do passado e seu desprezo cobarde, escolha de Seguro. Mas um dia saberemos.

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