domingo, 1 de abril de 2012

A purga

Penélope | Blog Aspirina B




Eis o que se lê por aí, pelos jornais, pela pena de colunistas encartados, provavelmente inspirados nos fabulosos Marques Mendes e Marcelos das nossas televisões: Seguro tem que proceder a uma purga no PS para se poder afirmar como líder da oposição. Nem mais.
Subjacente a esta opinião está a ideia assaz imaginativa de que Seguro tem potencial para ser um ótimo líder e só não o desenvolve devido aos obstáculos criados ou às pressões exercidas pela bancada socratista. Uau!

Esta mensagem, veiculada com total desonestidade por quem devia ter juízo para fazer melhores análises, não passa, observada no dia a dia a prestação pública da criatura, de poeira atirada aos olhos dos mais incautos e permeáveis a spins e, na prática, mais não pretende do que facilitar a vida a Passos, mantendo Seguro à frente da oposição.

Seguro tem tido oportunidades de ouro para mostrar o que vale, o que pensa, o que quer. Fala ou cala-se quando quer e sobre o que quer. Ninguém o impede, ninguém o obriga. Apesar de isso ser indesmentível, quase não houve, até à data, uma oportunidade que este homem não tivesse desperdiçado: falando ou calando-se, a imagem que transmite é a de alguém sem carisma nem personalidade, que não pensa grande coisa sobre coisa nenhuma e, quanto ao que quer, a única coisa que se percebe é que quer ser líder do PS, porque é giro, porque se reúne com líderes estrangeiros, porque o Pedro também é e porque sim. Ah, e quer também conquistar “pelo coração e os afetos” as bases do partido, entendendo-se por isso uma espécie de operação de adormecimento coletivo, a única com aparente sucesso.

Vendo bem, as reações na vida real, fora das “bases”, ao que faz e diz alternam entre a vergonha, os sorrisos amarelos, as expressões intrigadas, o encolher de ombros, a frustração, a desilusão, a troça ou, enfim, a resignação de quem acha que o mal é transitório, mas necessário. De facto, “uma desgraça” é o comentário mais comum ao desempenho de Seguro, proferido inclusivamente por quem votou nele.
Vale a pena recordar duas ou três pérolas desta ameaçada ostra: “Irei fazer uma abstenção violenta”; “Senhor primeiro-ministro, desafio-o para um debate a dois” (enquanto debatia… e a dois); “Não respondo (parado, frente a uma jornalista, no Parlamento, sobre a votação na generalidade da lei laboral e a disciplina de voto). Dou a palavra ao líder do grupo parlamentar, mas se a senhora jornalista quiser ouvir-me, convide-me para uma entrevista na SIC”. E outras declarações igualmente eloquentes, silêncios incompreensíveis sobre temas determinantes para a sua afirmação e programas extraparlamentares totalmente descabidos em relação às tensões políticas do momento.

Qual a responsabilidade dos “socráticos” em tal desastre, gostaria que os ditos comentadores nos explicassem. Em que é que o seu silenciamento contribuirá para a melhoria da qualidade da matéria-prima Seguro, também gostaria que fizessem a fineza de explicar.
Insurgir-se contra a inépcia e o ridículo é apenas um sinal de que há quem não tenha ainda desistido daquele partido. Mas há grande risco de cisão.

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