domingo, 19 de fevereiro de 2012

Desalento

Florbela Espanca




Às vezes oiço rir, e 'ma agonia
Queima-me a alma como estranha brasa.
Tenho ódio à luz e tenho raiva ao dia
Que me põe n'alma o fogo que m'abrasa!

Tenho sede d'amar a humanidade...
Eu ando embriagada... entorpecida...
O roxo de meus lábios é saudade
Duns beijos que me deram noutra vida!

Eu não gosto do Sol, eu tenho medo
Que me vejam nos olhos o segredo
De só saber chorar, de ser assim...

Gosto da noite, negra, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!

1 comentário:

  1. Melhor síntese artística de depressão não há.
    Uma grande poeta. Já a admiro desde os meus 14 anos. Obrigada António por trazer este belo poema.

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