Valupi, Blog Aspirina B
" ah, e gostaria, já agora, de ver toda a gente que arrepelou os cabelos quando dois polícias foram a um sindicato fazer perguntas e achou que isso era uma manobra de intimidação mandatada pelo governo de então a rasgar as vestes perante a possibilidade, muito real, de estarem a ser usados polícias como agentes provocadores em manifestações. vai um bocadinho para além da historieta dos polícias palermas no sindicato, não vai? vai, pois vai. tão tão além que até arrepia. mas, pelos vistos, a liberdade e a democracia agora estão bem guardadas, tão bem que os grandes arautos da liberdade nem repararam nesta insignificância. "
Fernanda Câncio
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Os mais altos dirigentes do PSD, e seus mais ubíquos e furiosos publicistas, a que ainda se junta a Casa Civil, insinuaram nos últimos anos – e para além do cerco judicial e mediático a Sócrates – que o anterior Governo tinha um plano para dominar a comunicação social através da PT, exercia uma “asfixia democrática” que impedia a plena liberdade de expressão, usava técnicas dos serviços secretos a partir do Gabinete do primeiro-ministro, espionava o Presidente da República, utilizava o SIS para manobras políticas, desenvolveu um plano para identificar todos os percursos automóveis de todos os cidadãos através de um chip na matrícula, tentava influenciar magistrados através de outros magistrados, perseguia magistrados e juízes, dominava o Procurador-Geral da República e o Presidente do Supremo, falsificava dados do INE, adulterava relatórios, escondia informações, inventou a ASAE para esmagar os pequenos comerciantes e acabar com as nossas mais saborosas tradições, lançava campanhas publicitárias contra o direito à greve através da Antena 1 e, sim, mandava polícias intimidar sindicalistas, como a Fernanda aqui recorda. Estarei, com toda a certeza, a esquecer-me de muitas mais acusações deste teor, onde apenas se procurava causar alarme social e diabolizar os governantes e seus apoiantes. Paulo Rangel, para dar um especialmente escabroso e patético exemplo do calibre desta rapaziada, chegou a declarar no Parlamento Europeu que já não existia um Estado de direito em Portugal porque tinham censurado uma crónica ao Crespo no JN. Que trastes estes ranhosos.
Pois bem. A Comissão Nacional de Protecção de Dados acaba de considerar inconstitucional a proposta do Governo sobre a instalação de câmaras de videovigilância, alegando que não garante os direitos fundamentais dos cidadãos quanto ao tratamento de dados pessoais. O Governo aprovou em Conselho de Ministros uma proposta sobre a utilização da videovigilância pelas forças de segurança, a qual atribui ao Ministro da Administração Interna o poder absoluto de decidir sobre a instalação e adequação destes sistemas em espaços públicos na prevenção da criminalidade. Pois muito bem. Se isto se passasse com o anterior Governo, os direitolas estariam agora num frenesim de protestos desvairados que os levaria a montar barricadas na estrada em Rio Maior e a rogar por uma intervenção militar estrangeira contra o inimigo instalado em São Bento. E Cavaco faria de imediato uma comunicação ao País, dizendo-se muito preocupado com a possibilidade de os socialistas andarem para aí a espiolhar o que a gente séria faz no meio da rua.
[Foto: Anonymous, uma das estátuas mais famosas de Budapeste, Hungria]
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