sábado, 20 de agosto de 2011

Tango

Fernando Py




Um tango me persegue desde a infância
no canto, no piano, na memória
e se me impõe à voz, timbrando vário
ao prolongar em mim a sua essência
nos dedos de meu pai sobre o teclado.
Não somente: transporta desde longo
tempo escrita do pai, letra de tango
no papel sempre então visto e relido.
Um tango me persegue: sua marca
é o realejo crepuscular que sinto
na imaginação rodando lento
e quanto mais passado mais se acerca.
E letra e pai e som, tudo afinal
gira ao compasso do tango fatal.



Fernando Antônio de Mello e Silva Py (Rio de Janeiro, 1935) - Além de poeta, é tradutor e crítico literário. Publica livros de poemas desde o final dos anos sessenta e colaborou com vários jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Traduziu obras de Marcel Proust, Marguerite Duras, Saul Bellow, Balzac, Alexandre Dumas e muitos outros. Faz parte da Academia Petropolitana de Letras. Recentemente publicou "Confissão Geral" pela editora Ibis Libris, com sua obra completa.

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