Pacheco Pereira, Blog Abrupto
A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.
Acontece hoje algo de muito semelhante aos primeiros anos de Sócrates: a comunicação social funciona como mensageiro dos recados governamentais sem qualquer verificação ou sequer distanciação da fonte. É isso que é o situacionismo. Nos primeiros anos de Sócrates, já estamos tão esquecidos!, a agenda política foi muito semelhante à dos dias de hoje, mesmo nos seus temas. Não era possível então a dramatização actual, mas onde agora existe a troika, na altura era o descalabro orçamental deixado pelo governo PSD-CDS, com o cálculo manipulado do Banco de Portugal a servir de bordão. Também então o governo Sócrates nomeou primeiro e depois propôs medidas de moralização das nomeações e, como agora, recebeu muito boa imprensa. Voltem aos jornais de 2005 para ver as semelhanças no discurso quanto aos boys e à moralização do acesso aos cargos públicos, que sempre acompanha os primeiros dias de um governo, no exacto momento em que ele está a fazer o contrário do que apregoa. É como se fosse uma espécie de amuse-bouche, cujo verdadeiro sabor só se sabe muito tempo depois. No entretanto, os efeitos de propaganda são conseguidos, e, no caso de Sócrates, só quando a roda da sorte mudou é que a comunicação social também mudou e passou de complacente para hiper-crítica. Isto é uma das formas típicas do situacionismo, quer na fase da complacência, quer na da rejeição. Vai-se para onde sopra o vento.
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