quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Post scriptum



Agora regresso à tua claridade.
Reconheço o teu corpo, arquitectura
de terra ardente e lua inviolada,
flutuando sem limite na espessura
da noite cheirando a madrugada.

Acordaste na aurora, a boca rumorosa
de um desejo confuso de açucenas;
rosa aberta na brisa ou nas areias,
alta e branca, branca apenas,
e mar ao fundo, o mar das minhas veias.

Estás de pé na orla dos meus versos
ainda quente dos beijos que te dei;
tão jovem, e mais que jovem, sem mágoa
-- como no tempo em que tinha medo
que tropeçasses numa gota de água.


Eugénio de Andrade
As Palavras Interditas

1 comentário:

  1. Olá António!
    Eugénio de Andrade , como sempre , perfeito em seus versos.

    (...)
    Estás de pé na orla dos meus versos
    ainda quente dos beijos que te dei;
    tão jovem, e mais que jovem, sem mágoa
    -- como no tempo em que tinha medo
    que tropeçasses numa gota de água.

    Lindo!
    Parabéns pela postagem.
    Bjss

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