segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Noite de Cristal
Esta noite, há 71 anos. Começava o Holocausto. Depois, Paul Celan escreveu a Fuga da Morte (ele estava em Berlim na noite de Cristal).
Leite negro da madrugada bebemo-lo ao entardecer
bebemo-lo ao meio-dia e pela manhã bebemo-lo de noite
bebemos e bebemos
cavamos um túmulo nos ares aí não ficamos apertados
Na casa vive um homem que brinca com serpentes escreve
escreve ao anoitecer para a Alemanha os teus cabelos de oiro Margarete
escreve e põe-se à porta da casa e as estrelas brilham
assobia e vêm os seus cães
assobia e saem os seus judeus manda abrir uma vala na terra
ordena-nos agora toquem para começar a dança
Leite negro da madrugada bebemos-te de noite
bebemos pela manhã e ao meio-dia bebemos-te ao entardecer
bebemos e bebemos
Na casa vive um homem que brinca com serpentes escreve
escreve ao anoitecer para a Alemanha os teus cabelos de oiro Margarete
Os teus cabelos de cinza Sulamith cavamos um túmulo nos ares aí não ficamos
[apertados
Ele grita cavem mais fundo no reino da terra vocês aí e vocês outros cantem e
[toquem
leva a mão ao ferro que traz à cintura balança-o azuis são os seus olhos
enterrem as pás mais fundo vocês aí e vocês outros continuem a tocar para a
[dança
Leite negro da madrugada bebemos-te de noite
bebemos-te ao meio-dia e pela manhã bebemos-te ao entardecer
bebemos e bebemos
na casa vive um homem os teus cabelos de oiro Margarete
os teus cabelos de cinza Sulamith ele brinca com as serpentes
E grita toquem mais doce a música da morte a morte é um mestre que veio da
[Alemanha
grita arranquem tons mais escuros dos violinos depois feitos fumo subireis aos
[céus
e tereis um túmulo nas nuvens aí não ficamos apertados
Leite negro da madrugada bebemos-te de noite
bebemos-te ao meio-dia a morte é um mestre que que veio da Alemanha
bebemos-te ao entardecer e pela manhã bebemos e bebemos
a morte é um mestre que veio da Alemanha azuis são os teus olhos
atinge-te com bala de chumbo acerta-te em cheio
na casa vive um homem os teus cabelos de oiro Margarete
atiça contra nós os seus cães oferece-nos um túmulo nos ares
brinca com serpentes e sonha a morte é um mestre que veio da Alemanha
os teus cabelos de oiro Margarete
os teus cabelos de cinza Sulamith
Tradução de João Barrento.
O Cachimbo de Magritte
http://cachimbodemagritte.blogspot.com/
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Olá!
ResponderEliminarCinzas do Holocausto
Banalidade do mal,
Um retrocesso, imoral,
Pensou a Poeta, um dia…
E veio à tona o temor
De, ante tanto desamor,
Não haver mais poesia.
(...)
Quantas ilusões perdidas,
Infâncias interrompidas,
Esperanças decepadas…
Quantas lúbricas medidas
Transformando sobrevidas
Em almas atormentadas…
Infelizmente herdamos
Todos nós, que aqui estamos,
Esse espólio de maldade.
Como vítimas de um Fausto
Sobre as cinzas do Holocausto,
Caminha a Humanidade.
(...)
O inferno do Holocausto,
Algoz, fruto da infâmia,
Não pode ser repetido!
E justamente por isso
Não pode – e não deve – ser
Nunca, jamais, esquecido!
Oriza Martins
Bem lembrado...bem lembrado, António!
Bjss