quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A palavra

António Ramos Rosa




A palavra é uma estátua submersa, um leopardo

que estremece em escuros bosques, uma anémona

sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela

que projecta a sua sombra sobre um torso.

Ei-la sem destino no clamor da noite,

cega e nua, mas vibrante de desejo

como uma magnólia molhada. Rápida é a boca

que apenas aflora os raios de uma outra luz.

Toco-lhe os subtis tornozelos, os cabelos ardentes

e vejo uma água límpida numa concha marinha.

É sempre um corpo amante e fugidio

que canta num mar musical o sangue das vogais.

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