quinta-feira, 24 de julho de 2014

Leituras







O estado judeu

por VIRIATO SOROMENHO MARQUES | Diário de Notícias

Se a Europa tivesse respeitado as suas comunidades judaicas, Israel nunca teria saído das páginas da obra de Theodor Herzl, O Estado Judeu (1896). Se a intelectuali-dade judaica, a mesma que encheu a Europa de prémios Nobel nas quatro primeiras décadas do século XX, tivesse sido acarinhada, a atual crise europeia não teria sequer come-çado, ou já teria sido resolvida, pois uma parte importante da sua origem e persistência reside no paroquialismo das atuais elites (académicas e políticas) de uma Europa onde, sob o verniz civilizacional, ainda se ouve o tribal bater de escudos. Herzl, que é diabolizado por uma direita e uma esquerda que nunca o leram, queria fazer de Israel (que tanto poderia ter sido fundado na Argentina como na Palestina!) um Estado laico (ele detestava a "teocracia"), neutral, sem serviço militar obrigatório, onde vigoraria um "federalismo linguístico", prestando homenagem às pátrias de onde os judeus haviam sido expulsos (do mesmo modo que Edgar Morin diz ter encontrado, na Haifa de 1943, judeus alemães que choraram a derrota de Estalinegrado...).
Na verdade, a maioria esmagadora dos judeus, antes do Holocausto, considerava pátria e Europa como sinónimos. O genocídio nazi, que se alimentou dos vetustos ódios antissemitas do húmus europeu, transformou a utopia de Herzl numa solução tão urgente como um barco salva-vidas num naufrágio. No atual labirinto israelo--palestiniano só consigo ver vítimas encurraladas. Judeus e árabes, misturando o seu sangue, enquanto a política permanecer refém do ódio. Aqueles que na Europa, sem pestanejar, reduzem tudo num dedo acusador contra os judeus fariam melhor se olhassem ao espelho. Todo este sofrimento começou devido à fobia homicida perante a diferença. Esse retorcido e milenar demónio da nossa alma europeia.




A Guiné Equatorial não é risco, é desafio

por FERREIRA FERNANDES | Diário de Notícias

Não conheço a Guiné Equatorial e não gosto do que lá se passa. O "e" copulativo da frase anterior parece contraditório mas não é. Chega-me saber o que sei dela: não escolheria o seu Presidente para meu amigo. O seu regime não é democrático e é corrupto.
Está bem, mas e relações institucionais do meu país com a Guiné Equatorial? A haver negócios: limpos e bem escrutinados. Quanto ao mais, o usual nas relações internacionais. Pedimos que sejam expulsos da ONU a Coreia do Norte, porque o povo não vota, a China (e, já agora, os Estados Unidos) porque mantém a pena de morte, a Arábia Saudita, porque nega direitos às mulheres? Espero que o meu país tente influenciar esses países para entrarem no caminho direito, mas não quero que os expulse - não só porque seria esforço derrotado mas porque a ideia moderna das instâncias internacionais é de juntar para que o certo corrija o errado (já aconteceu, Timor é independente graças a isso). Mas esta conversa é sobre a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, não é? É.
Ela quis entrar numa organização de língua portuguesa. Então, seja bem-vinda. Obrigado, Angola, Brasil e São Tomé por arrastarem para a nossa comunidade mais um. É prova de que a língua portuguesa não só ontem soube unir, com os portugueses, como hoje tem novas forças e novos motivos para unir. É uma vitória cultural da nossa língua. Se a isso acrescentarmos a do fim da pena de morte, será uma vitória moral.






Augusto Santos Silva na TVI 24 
Via canal no Youtube do Sítio com vista sobre a cidade
Blog Câmara Corporativa





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